Ainda em fase de crescimento das transmissões do coronavírus, o Brasil registrou forte recuo das exportações e importações de mercadorias em abril, na comparação de valores tanto com o mês anterior quanto com o mesmo mês de 2019.
A queda nas vendas para o exterior no mês passado foi de 7% e, em relação ao mesmo mês de 2019, de 5%. Já as importações despencaram 20,6% em relação a março deste ano e ficaram 15% abaixo de abril de 2019. O impacto da pandemia sobre o comércio exterior brasileiro, que se acelerou em abril, começou em março, com -0,9% para as exportações e -0,4% para importações.
Ainda assim, no primeiro trimestre o Brasil foi exceção entre 20 maiores economias do mundo, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (28) pela OCDE (organização que reúne 37 entre os principais países do mundo). Na média, as exportações do G20 encolheram 4,3% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quarto trimestre de 2019, e as importações ficaram 3,9% menores, atingindo o menor nível desde o segundo trimestre de 2017.
O Brasil registrou alta de 0,9% nas exportações e de 2,8% nas importações no trimestre. Segundo a OCDE, o país foi "inicialmente menos exposto ao surto de covid-19 do que a maioria das outras economias do G20 no período, e o crescimento exponencial começou no final de abril". Na análise da organização, a perpectiva é de piora mais acentuada, "devido à prevalência do vírus em o país".
Outra ressalva importante, segundo a OCDE, é que o país vinha de queda forte nas importações no último trimestre de 2019 (-8,1%) e exportações também em baixa (-1,5%).
— Os aumentos do primeiro trimestre de 2020 mostram um efeito esperado de 'recuperação', mas os níveis reais ainda estão abaixo dos exibidos no terceiro trimestre do ano passado — afirmaram analistas da entidade.
Já a Argentina teve o maior tombo nas exportações entre os 20 maiores países no primeiro trimestre, de 14,3%, enquanto as importações recuaram 1,7%. O país vizinho entrou em lockdown em 19 de março.
A maior parte dos países do G20 adotou também a partir de meados de março medidas de restrição da atividade para combater a pandemia de coronavírus. Segundo a OCDE, os graus variados de restrição e a exposição dos países a outras nações afetadas pela pandemia se refletiram nos números do comércio internacional.
A China, primeira a ser afetada pelo coronavírus, paralisou a região de Hubei de 23 de janeiro a 8 de abril, e registrou queda de 9,3% nas exportações do primeiro trimestre e 7% nas importações.
A paralisação do mais importante fornecedor global de peças e componentes afetou a produção industrial em vários outros países do G20 ao longo do trimestre. Em abril, os números da China mostram alta de 4% nas exportações tanto sobre março quanto sobre abril de 2019.
Na Índia, as exportações tiveram queda semelhante à das chinesas, de 9,2%, embora a paralisação no país tenha sido adotada apenas em 23 de março. As importações recuaram 2,3%. Em países da Ásia que reagiram com políticas intensivas de teste, rastreamento e isolamento para restringir e encurtar lockdowns, como Japão e Coreia do Sul, o impacto no comércio foi relativamente menos abrupto.
No Japão, as exportações caíram 4% e as importações, 4,4%. Na Coreia, houve aumento de 3,3% nas exportações, mas queda de 1,2% nas importações, com forte volatilidade durante o trimestre, por causa do impacto da quarentena chinesa na cadeia de suprimentos.
A redução da atividade asiática afetou as exportações da Austrália, que caíram 3,7%. O colapso no preço do petróleo afetou Rússia e Arábia Saudita, com as exportações despencando 9,9% e 10,2%, respectivamente.
Canadá e Estados Unidos tiveram redução nas exportações (de 4,2% e 1,9%) e nas importações (3,8% e 2,8%). O México registrou alta de 1% em suas vendas internacionais, mas queda de 1,2% nas importações.
O impacto foi irregular na Europa. França, Itália e Reino Unido registraram quedas mais abruptas nas exportações (7,1%, 4,9% e 7,8%, respectivamente) e nas importações (7,0%, 5,6% e 6,5%, respectivamente) que a Alemanha, em que as exportações tiveram baixa de 3,5% e as importações, 2,4%.
A maior economia europeia adotou a quarentena nacional em 22 de março, depois da Itália (10) e da França (17), mas um dia antes do Reino Unido, onde a ordem de ficar em casa veio em 23 de março.
A organização afirma que dados de abril apontam para contração mais acentuada no comércio internacional no segundo trimestre. No mês passado, exportações coreanas e japonesas caíram 21,5% e 10,6%, respectivamente, em comparação com março de 2020.