Melhor safra para a venda de chocolates, a Páscoa tem dado mais angústia do que euforia às fabricantes neste ano. Diante da pandemia do coronavírus, com a população em quarentena protegendo-se da doença e o comércio fechado em sua grande maioria, as vendas devem derreter em relação ao ano passado.
A expectativa da Associação de Indústrias e Chocolate de Gramado (Achoco), um dos principais polos da guloseima caseira no país, é que apenas 15% da produção seja vendida na Páscoa - ou seja, todo restante irá aguardar em estoque. Para amenizar a pancada, as empresas têm ousado nas promoções e revigorado os canais de pedidos online.
A gramadense Lugano montou uma equipe de 20 pessoas para receberem pedidos por telefone e entregarem bombons, ovos e chocolates nas casas de clientes na região da Serra Gaúcha. As cinco lojas próprias e 35 unidades da rede de franquias estão fechadas, portanto o delivery se tornou uma importante aposta de venda. Para pedidos em Porto Alegre, no Interior do Estado e outras cidades brasileiras, os pedidos são por e-commerce.
— As encomendas pelo nosso site cresceram sete vezes nos últimos dias em relação à média, inclusive com pedidos para Tocantins e Minas Gerais — detalha Francisco Benetti Marcon, gerente de Produção da Lugano
Para incentivar internautas a preencherem o carrinho virtual, a empresa zerou o frete para encomendas acima de R$ 150. Entretanto, nem este esforço deverá evitar uma redução de até 50% das vendas nesta Páscoa em relação à anterior, e pelo menos 15% de quebra do estoque.
— Nossa preocupação, além das vendas, é não deixar o espírito de Páscoa morrer — diz Marcon.
O apelo afetivo à celebração é adotado por diversas empresas como forma a trazer certa leveza para os tempos de confinamento — e , é claro, convencer os clientes a comprarem chocolates para si e presentearem familiares. A Lacta reformulou seu posicionamento de marca para “Cada pedacinho aproxima. Mesmo estando cada um na sua toca”. A ação incentiva as pessoas a encomendarem ovos pelo e-commerce ou enviarem de presente para alguém distante. Nos supermercados, a fabricante antecipou o período de descontos para evitar as aglomerações que costumam acontecer às vésperas do festejo.
Algumas indústrias apostam no corte de preços para salvar a data. A Kopenhagen passou a oferecer 30% de desconto em toda a linha de Páscoa e frete grátis para pedidos feitos até 12 de abril, o domingo da celebração. Já a Cacau Show abriu a possibilidade de se parcelar em até seis vezes as compras, desde que a parcela mínima fique em R$ 30. Pedidos acima de R$ 99 não pagam transporte. A empresa também tem reforçado a campanha para pedidos por um aplicativo de entrega de comida, que possibilita que a chegada da encomenda mais rapidamente.
Contatar o consumidor e convencê-lo a celebrar a Páscoa também é a preocupação dos supermercados. As tradicionais parreiras já estão sendo montadas, mas a atenção dos clientes ainda está em alimentos básicos e itens de limpeza, efeito de um receio por desabastecimento.
Na rede Asun, as vendas de chocolates cresceram entre 10% e 15% desde meados de março, com o início da quarentena em cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre. Entretanto, a procura por ovos de Páscoa é lenta.
— As vendas de ovos devem ficar bem concentradas nos dias anteriores à Páscoa. Antes disso, a atenção dos clientes deve seguir nos itens mais essenciais — projeta Dilson Martinez Laguna, gerente da loja da Asun na Avenida Plinio Brasil Milano, em Porto Alegre.
Para ajudar os clientes a evitarem aglomeração e a comprarem com mais tranquilidade, a rede criou um serviço de drive-thru, em que os compradores enviam a lista de compras por aplicativo ou WhatsApp e um funcionário leva o carrinho até o estacionamento. Todo procedimento é feito sem que o cliente tenha que pisar fora do automóvel.
— Cerca de 30 encomendas são feitas desta maneira a cada dia, e é mais uma porta que abrimos para os consumidores garantirem a sua Páscoa — afirma Laguna.