Após o dólar atingir seu valor nominal recorde na quarta-feira (12), o presidente Jair Bolsonaro reconheceu que como cidadão considera o preço da moeda americana está"um pouquinho alto". Na saída do Palácio da Alvorada, o chefe do Executivo nacional também disse conversar com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, sobre questões econômicas, mas que não interfere diretamente nas decisões da área.
— Está dando certo a economia por causa disso, porque eu não interfiro. Por exemplo, quando acaba a reunião do Copom, quando decide 4,25% (a taxa básica de juros), daí eu converso: "Roberto (Campos, presidente do Banco Central), o que aconteceu?" Depois que aconteceu. Eu, como cidadão, está um pouquinho alto, está um pouquinho alto o dólar — afirmou.
O presidente também foi questionado sobre as declarações do ministro da Economia Paulo Guedes, que na quarta (12) disse que um dólar um pouco mais alto é bom para todo mundo. Ao mencionar períodos em que o real esteve mais valorizado, o ministro alegou que empregada doméstica estava indo para a Disney, "uma festa danada".
— Pergunta para quem falou isso, eu respondo pelos meus atos — reagiu Bolsonaro.
Desde a indicação de Guedes para o ministério, o presidente afirma que não entende nada de economia e manda interlocutores perguntarem sobre o tema ao "Posto Ipiranga" — apelido dado ao ministro.
Reforma administrativa
O chefe do Executivo nacional também falou sobre a proposta da reforma administrativa. Após sinalização de que o texto não seria enviado, ele afirmou nesta quinta-feira (13) que deve enviar o projeto na próxima semana ao Congresso. O mandatário também adiantou que a reforma não trará mudanças nos direitos atuais dos servidores, como a estabilidade.
— Está muito tranquila a reforma. Não será mexido nos direitos atuais dos servidores, inclusive a questão da estabilidade. Quem é servidor continua com a estabilidade sem problema nenhum — disse Bolsonaro. — As mudanças propostas ao Congresso valeriam para os futuros servidores — acrescentou.
O presidente declarou também que algumas categorias —como Polícia Federal, Forças Armadas e Receita Federal — teriam "diferenciação", como a manutenção da estabilidade.
A reforma administrativa deverá alterar, por exemplo, o regime de contratação e planos de carreira do serviço público. Nesta semana, o governo passou a avaliar a desistência do envio de uma proposta própria ao Congresso. A ideia, no entanto, foi recebida com contrariedade pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A proposta, que começou a ser discutida entre governo e congressistas, é o Executivo deixar de enviar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) de sua autoria e aproveitar matérias já em tramitação. A partir daí, seriam enviadas apenas sugestões ao Congresso.
A equipe econômica ainda insiste em as medidas sejam enviadas pelo Executivo a deputados e senadores. A reportagem apurou que a resistência está no núcleo político do Palácio do Planalto em razão das eleições. Questionado nesta quinta, Bolsonaro afirmou que o Congresso tem autonomia.
— (O Congresso) tem a primora, pode rejeitar o nosso, pegar o de alguém lé e melhorar. Pode tudo o parlamento — disse.