É em meio aos vinhedos da serra gaúcha que devem brotar, nesta semana, indicações sobre o rumo do Mercosul, que ocupou o centro de polêmicas nos últimos meses. A partir desta segunda-feira (2), Bento Gonçalves recebe diplomatas e presidentes para a realização de nova cúpula do bloco econômico. A organização tem Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai como membros efetivos.
Os debates ocorrem no hotel Spa do Vinho, na região do Vale dos Vinhedos, rota turística e berço de vinícolas gaúchas. Por esse motivo, a 55ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul foi apelidada de Cúpula do Vale dos Vinhedos.
O ponto alto da programação é a reunião dos presidentes, marcada para quinta-feira (5). Além de Jair Bolsonaro, Mauricio Macri (Argentina) e Mario Abdo (Paraguai) confirmaram presença, informou o Itamaraty. Por questões de saúde, o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, deve ser representado pela vice-presidente, Lucía Topolansky, acrescentou o ministério.
Os líderes desembarcam na Serra no momento em que o Mercosul prepara transição. A cúpula em Bento Gonçalves deve ser um dos últimos compromissos de Macri no comando da Argentina. Seu sucessor, o peronista Alberto Fernández, assume o posto de presidente no próximo dia 10.
No Uruguai, outra mudança. Luis Lacalle Pou foi confirmado como vencedor das eleições locais. O triunfo do candidato de centro-direita encerra o período de 15 anos de gestões de esquerda no país. Fernández e Lacalle Pou não devem ir a Bento Gonçalves.
Ao longo do evento, analistas tendem a prestar atenção em eventuais sinalizações do anfitrião Bolsonaro. No último dia 25, ao ser questionado se o Brasil poderia deixar o Mercosul devido à vitória de Fernández na Argentina, o presidente mencionou que "tudo pode acontecer". Após a tensão nas relações, ambos sinalizaram, dias depois, manter "vínculo pragmático" entre os países.
– Dois dos quatro presidentes que devem participar da cúpula têm a sombra de seus sucessores. Logo, o evento funcionará como teste do que pode vir pela frente. Por ser o anfitrião, Bolsonaro tem papel proeminente. Convém prestar atenção em sua postura – diz o professor de Relações Internacionais Vinícius Rodrigues Vieira, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Ex-embaixador do Brasil na Argentina, José Botafogo Gonçalves avalia que o Mercosul precisa passar por "ajustes", mas destaca que o bloco tem peso relevante na pauta de exportações brasileiras, sobretudo de produtos industrializados. A Argentina é o quarto principal destino das mercadorias verde-amarelas no Exterior.
Devido à penúria vivida pelos vizinhos, os embarques desabaram 38,4% de janeiro a outubro deste ano em relação a igual período de 2018, para US$ 8,2 bilhões.
– As declarações de que o Brasil pode andar sozinho, sem a Argentina, são uma tolice. A crise no país vizinho provoca perda que não é substituída nas exportações de manufaturados. O Mercosul ainda é protecionista e precisa de reformulação, mas não deve ser visto como algo do passado – diz Gonçalves.
A cúpula na Serra começa com encontros de diplomatas sobre temas diversos entre segunda e terça. Na quarta, é a vez de ministros das Relações Exteriores.
Segundo o Itamaraty, representantes de países associados, como Bolívia, também foram convidados.
– A discussão sobre os termos do acordo comercial do Mercosul com a União Europeia deve ganhar mais espaço quando o novo governo da Argentina assumir o mandato – projeta o economista Marcos Lélis, professor da Unisinos.
O prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin (PP), comemora a organização da cúpula no município. Segundo ele, o evento deve levar em torno de 2,5 mil pessoas à cidade, entre políticos, assessores, agentes de segurança e imprensa.
– Bento Gonçalves explora o enoturismo. E, se existe algo que une os países latinos, é o vinho – pontua Pasin, ao comentar a escolha da cidade como sede da cúpula.
O grupo
Ano de fundação do Mercosul: 1991
Integrantes: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai são os Estados partes. A Venezuela aderiu em 2012 como membro efetivo, mas está suspensa desde dezembro de 2016.
O que é: criado a partir do Tratado de Assunção, o bloco busca a integração dos membros por meio da formação de mercado comum, com livre circulação de bens e serviços. O principal parceiro brasileiro é a Argentina.
A programação
A 55ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, apelidada de Cúpula do Vale dos Vinhedos, ocorre nesta semana em Bento Gonçalves, na Serra.
O ponto alto da programação é a reunião dos presidentes, marcada para quinta-feira. Além de Jair Bolsonaro, Mauricio Macri (Argentina) e Mario Abdo (Paraguai) confirmaram presença, indicou o Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Por questões de saúde, a vice-presidente do Uruguai, Lucía Topolansky, deve representar o presidente local, Tabaré Vázquez, acrescentou o Itamaraty.
Na quarta-feira, véspera da cúpula presidencial, é a vez de ministros das Relações Exteriores participarem de encontro em Bento Gonçalves.
Antes, entre segunda e terça, diplomatas debatem temas diversos de interesse do bloco econômico.
O local
A Cúpula do Vale dos Vinhedos ocorrerá no Spa do Vinho. O hotel fica a cerca de nove quilômetros do pórtico em forma de pipa de vinho que dá as boas-vindas aos turistas em Bento Gonçalves.