O mercado imobiliário brasileiro registrou no terceiro trimestre deste ano um aumento de 4,1% no volume de lançamentos na comparação com o período de três meses até junho -de 31.881 para 33.199. Em 12 meses, o acumulado está positivo em 122,7 mil unidades lançadas.
Em comparação ao mesmo trimestre do ano passado, o resultado ficou positivo em 23,9%, segundo o balanço de indicadores divulgado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), nesta segunda-feira (25). No terceiro trimestre de 2018, foram lançadas 26.799 unidades.
Para o presidente da Cbic, José Carlos Martins, os números demonstram consistência na recuperação do setor, que aposta em resultados ainda melhores no trimestre final deste ano.
Os números vão bem, mas o financiamento da habitação popular preocupa. O Minha Casa Minha Vida ainda responde a 56,9% dos lançamentos no terceiro trimestre deste ano. A participação é relevante também em São Paulo, onde representa 44% dos lançamentos e 46% das vendas.
Crítico da liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para o estímulo ao consumo, o presidente da Cbic diz que a habitação de médio e alta padrão encontrará outros caminhos para o crédito, mas que o crédito para os mais pobres ainda precisa de soluções.
— Todas as projeções são de otimismo, mas a fonte de financiamento é uma preocupação. Temos certeza que o mercado de classe média vai em frente, mas nos preocupa o orçamento cada vez menor justamente onde se concentra o déficit — explica.
Na região Sudeste, que concentra o volume de lançamentos e vendas no país, 9.749 unidades lançadas no terceiro trimestre integram o Minha Casa Minha Vida. Nos demais padrões foram 8.880.
O vice-presidente da área imobiliária da Cbic, Celso Petrucci, avalia que o patamar de juros e inflação baixos, e o novo modelo de financiamento iniciado pela Caixa Econômica Federal, que considera o IPCA, índice de inflação oficial, na correção, abrem a possibilidade de entrada de novos modelos de concessão de crédito, com outros agentes e novos produtos.
No fim de outubro, a Caixa anunciou a redução na taxa mínima de juros do crédito imobiliário. Em agosto, lançou a operação que substitui os juros fixos pelo IPCA, e prevê lançar em 2020 um modelo de crédito prefixado.
— Para famílias com renda acima de R$ 2,6 mil, não temos dúvidas de que o mercado resolverá a questão, mas quem está abaixo disso, ainda há a necessidade de subsídio ou desconto.
Governo está devendo R$ 500 milhões para empresas neste ano
O mercado para famílias mais pobres está diante de cortes e atrasos no Minha Casa Minha Vida e a redução no orçamento do FGTS para habitação. Além disso, o governo federal vem estudando a redução no acesso de famílias de baixa renda a imóveis subsidiados pelo programa.
Para 2020, o Minha Casa Minha Vida terá o menor volume de recursos da história. Neste ano, o governo está devendo R$ 500 milhões a empresas que, em sua maioria, fazem habitações na faixa 1 do programa, para famílias com renda mensal até R$ 1.800.
A redução do volume de recursos do fundo de garantia para a habitação vem sendo alvo de críticas do setor imobiliário, que quer ouvir do governo uma solução também para os subsídios. Há a previsão de uma reunião com a equipe econômica para discutir o assunto.
Cálculos do Sindicato do Setor Imobiliário de São Paulo (Secovi-SP) apontam que as liberações de saque do FGTS colocam os financiamentos da habitação popular em risco para 2020 e 2021. Para 2022, a perspectiva é de já não haja dinheiro para crédito mais.
Além dos lançamentos, o balanço de indicadores da Cbic apontou melhora nas vendas de unidades, que cresceram 15,4% no terceiro trimestre, mas caíram 4,9% na comparação com o período anterior. José Carlos diz que a queda é sazonal e já esperada, ocorrendo tradicionalmente nos primeiros e terceiros trimestres de cada ano.
De julho a setembro deste ano, 32.575 unidades residenciais foram vendidas nas 17 cidades e dez regiões metropolitanas analisadas pela Cbic. No mesmo trimestre em 2018 foram 28.219. Em 12 meses até setembro, o setor acumula 129.139 unidades vendidas.
Os números são positivos em São Paulo e nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte e Curitiba, por exemplo. Segundo a Cbic, a recuperação chega mais cedo e de modo mais consistente onde a economia depende menos do estado.
— São Paulo é quem está puxando o mercado imobiliário, mas outras regiões começam a manter os resultados — afirma o presidente da Cbic.