O dólar teve um alívio nesta sexta-feira (30) e recuou 0,69%, a R$ 4,1430. Mas, em agosto, a moeda acumulou alta de 8,15%, a maior valorização mensal desde setembro de 2015. O período foi marcado pela entrada do Brasil em recessão técnica, crise fiscal e desaceleração da China, quando o dólar foi a R$ 4,20, máxima histórica nominal.
Neste ano, o pico de R$ 4,1720, alcançado na quinta-feira (29), também tem entre suas causas o enfraquecimento da economia chinesa. Em agosto, dados mostraram que a produção industrial chinesa desacelera para uma mínima de mais de 17 anos.
Um dos motivos e agravantes desse movimento é a guerra comercial chinesa com os Estados Unidos, que já dura mais de um ano e meio. Nas últimas semanas, o conflito se intensificou, com o aumento de tarifas de importações entre os países, que deve entrar em vigor neste domingo (1º).
Crise na Argentina se agrava
Além de uma maior tensão entre os países, que gera aversão a risco nos investidores, a Argentina teve sua crise agravada com o resultado das primárias das eleições presidenciais. Em 11 de agosto, o candidato kirchnerista Alberto Fernández registrou a maioria da intenções de voto - o suficiente para ganhar a disputa em primeiro turno.
Investidores ficaram temerosos com a provável eleição da oposição e com o risco de que a Argentina não honre suas dívidas. A Bolsa argentina refletiu o cenário negativo e desvalorizou 40% em agosto, pior queda em um mês na história do índice Merval.
O peso argentino também foi pressionado e desvalorizou 35% em relação ao dólar no período, pior desempenho em um ano. A moeda americana chegou a valer 60 pesos, maior patamar nominal da história.
— É uma situação muito ruim na Argentina, mas, para nós, o efeito não é tão grande no curto prazo. O que prevalece é o cenário externo, com guerra comercial — afirma Patricia Krause, economista da seguradora de créditos francesa Coface.
Com a desvalorização do peso, fica mais difícil para a Argentina pagar as dívidas, muitas delas em dólar. O governo, então, decidiu adiar o prazo de pagamento de parte de sua dívida de curto prazo e renegociar as de médio e longo prazos, inclusive a parcela referente a empréstimos com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Real foi a segunda pior moeda entre países emergentes
Devido ao cenário doméstico, o peso argentino teve o pior desempenho dentre os emergentes em um período que todas, com exceção do Baht tailandês, se desvalorizaram. O real foi a segunda pior moeda emergente em agosto, com uma desvalorização bem maior que o terceiro colocado, o peso mexicano, que recuou 4,6%.
A moeda brasileira deprecia conforme investidores buscam se proteger em dólar. A perspectiva de desaceleração global, com pioras das economias alemã e chinesa, leva a fuga de ativos de risco, como mercado de ações e investimentos em países emergentes, para ativos mais seguros, como dólar, ouro e títulos do tesouro americano.
O movimento levou a Bolsa brasileira a ter uma queda de 0,67% em agosto, segundo pior desempenho do ano, atrás do recuo de 1,86 de fevereiro. Nesta sexta, o Ibovespa teve seu quarto pregão positivo seguido e fechou em alta de 0,61%, a 101.114 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22 bilhões, acima da média diária para o ano.
No mês, a Bolsa teve o pior saldo de investimentos estrangeiros com saída de R$ 12 bilhões. No acumulado de 2019, há um déficit de R$ 21,955 bilhões, pior resultado anual desde 2008, ano da crise financeira. Naquele período, a saída, corrigida pela inflação, foi de R$ 44,6 bilhões.
Preço das matérias-primas também aumentou; ouro disparou 7%
O desempenho do índice poderia ter sido bem pior se não fosse por uma trégua na guerra comercial. Chineses e americanos indicaram novas rodadas de negociação nesta semana, o que levou ativos de risco a recuperarem partes das perdas no mês.
Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 acumulou queda de 1,8% em agosto. Dow Jones recuou 1,7% e Nasdaq, 2,6%. Este é apenas o segundo mês no vermelho dos índices no ano. A primeira queda foi em maio, quando a Bolsa americana derreteu 8%, também com o aumento de tensões entre China e EUA.
Com a piora do cenário global, o preço das matérias-primas também foi pressionado. Em agosto, o contrato ativo de minério de ferro na China teve o seu pior desempenho mensal, com queda de 26%. O barril de petróleo Brent acumulou queda de 7,3%, a US$ 60, menor patamar desde janeiro.
Por outro lado, o ouro, visto como um dos ativos mais seguros, disparou 7%, a US$ 1.523, maior patamar desde 2013.