O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, afirmou nesta sexta-feira (19), em discurso no teatro do banco, que pretende explicar ao povo brasileiro a "caixa-preta" da instituição para mostrar que é patriota.
— Vamos explicar a "caixa-preta" para a população brasileira. O banco está sendo atacado. Questionam a capacidade do banco, o patriotismo, precisamos virar essa página. Explicar tudo o que tiver, abrir toda informação que o brasileiro quiser ver, e aí vamos virar essa página, pois existe essa nuvem cinza em cima do banco — disse Montezano.
— Isso é um marco zero da nossa estratégia. Vamos mostrar que somos, sim, patriotas e transparentes e mostrar um banco de serviço —afirmou.
Enquanto discursava, o presidente mostrava em um telão diversas manchetes de sites abordando o tema "caixa-preta do BNDES".
Ele tomou posse na última terça (16), em Brasília, mas participou de nova cerimônia nesta sexta-feira com a presença de família, amigos, imprensa, funcionários e convidados.
— Minha torcida organizada — disse Montezano, apontando para os amigos e parentes que foram parabenizá-lo no dia em que assumiu o cargo no Rio de Janeiro (RJ).
O pai, Roberto Montezano, professor emérito do Ibmec-RJ, foi o mais homenageado no discurso e depois subiu ao palco para cumprimentar o filho.
— Menos banco, mais desenvolvimento. O BNDES deve ser sustentável e não necessariamente lucrativo. Atuação complementar e pioneira, não competir onde o privado pode atuar. O banco conhece o Estado como poucos, às vezes melhor que o próprio Estado. E vamos acelerar o Estado com privatizações e concessões financeiras. Quando interage com o Estado não pode pensar no lucro, e sim no que vai acontecer com o povo daqui a 10 anos — avaliou Montezano.
Ele entrou no lugar de Joaquim Levy, que pediu demissão da presidência do BNDES em junho, sete meses após aceitar o convite feito pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Desde que assumiu o cargo, Levy havia anunciado a reestruturação da instituição com reduções e mudanças de cargos, mas não conseguiu abrir a tal caixa-preta do BNDES, promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro.
Na terça-feira, Montezano disse não ter opinião sobre o assunto.
— Não tenho opinião formada sobre o tema (caixa-preta) ainda. Estou vindo com a cabeça aberta sobre o conteúdo das informações que estão lá e estou pedindo prazo de dois meses para formar uma opinião a respeito do tema — afirmou, na ocasião.
Essa era uma das principais promessas de Bolsonaro durante a eleição na área de economia — ele costuma apontar problemas em empréstimo do BNDES para países como Cuba e Venezuela.
Ao longo da campanha, a promessa de "abrir a caixa-preta" do banco gerou diversos memes e mensagens virais no Whatsapp. Uma delas dizia que "se o povo brasileiro acha que o 'petrolão' foi o maior escândalo de todos os tempos no país, esperem até ver o que fizeram no BNDES". Outras acusavam supostas obras financiadas pela instituição no Exterior.
Em seu Twitter, Bolsonaro também tratou do tema algumas vezes. Em janeiro, após divulgar os 11 países que mais utilizaram recursos do banco e as razões para os empréstimos, prometeu: "ainda vamos bem mais a fundo". Pouco antes, havia prometido "revelar ao povo brasileiro o que foi feito com seu dinheiro nos últimos anos".
Em novembro, Bolsonaro havia mostrado confiança e prometeu abrir a caixa-preta do BNDES na primeira semana de governo.
— Se não abrir a caixa-preta, ele (Joaquim Levy) está fora — disse, na ocasião.
Também nesta sexta, Montezano afirmou que pretende devolver R$ 126 bilhões em empréstimos ao Tesouro ainda neste ano.
— Vamos concluir a devolução de recursos de empréstimos recebidos do Tesouro Nacional. O cidadão tem R$330 bilhões aplicados no BNDES, 7% da dívida pública federal. É um número substancial. Em estatais federais, como Petrobras, Caixa Econômica, Eletrobras e outras, esse valor vai para R$ 260 bilhões. Vamos concluir a devolução dos R$ 126 bilhões ainda esse ano — disse o presidente do BNDES.
Entre 2015 e 2018, o banco já havia devolvido R$ 309 bilhões ao Tesouro. Em junho do ano passado, a instituição acertou a reestruturação da dívida, antecipando o prazo final em 20 anos, passando para 2040, com um cronograma anual de devoluções de R$ 25 bilhões, em média. O atual governo quer a devolução de R$ 126 bilhões do BNDES à União em 2019.
Após o evento no teatro do BNDES, Montezano não quis dar entrevista à imprensa presente.
Na semana passada, ele já havia apresentado a funcionários um cronograma de atividades que termina, na oitava semana, com a meta de "explicar a 'caixa-preta" do banco. Ele também já afirmou que o banco vai passar por uma reestruturação de seu papel, com atuação mais voltada à assessoria financeira do setor público e menos a investimentos.