O acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, anunciado nesta sexta-feira (28), desperta pelo menos duas reações entre lideranças da indústria gaúcha. Por um lado, empresários comemoram a confirmação do acerto e enxergam oportunidade para aumento nas vendas internacionais. Por outro, cobram a aprovação de reformas estruturais no país para que as mercadorias gaúchas não corram o risco de perder terreno dentro do Brasil com o eventual avanço dos produtos europeus.
O anúncio do acordo ocorreu depois de uma série de idas e vindas nas negociações, que se arrastaram por 20 anos. Além da indústria, o agronegócio gaúcho também deve ser impactado pela medida.
— Sem dúvidas, o acordo deve ser comemorado. Mas também precisamos fazer a lição de casa, com as reformas no país. São essas medidas que podem tornar a indústria mais competitiva. Sem as reformas, pode haver risco para o setor, já que o acordo também permite à União Europeia maior acesso ao mercado brasileiro, que é grande e desperta interesse de empresas internacionais. Não existe almoço grátis — avalia o coordenador do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Cezar Müller.
Entre as reformas defendidas pela entidade estão a da Previdência e a tributária, além de avanços no setor de logística. Müller diz aguardar mais detalhes sobre o acerto, mas estima que os segmentos calçadista e moveleiro devem estar entre os mais beneficiados. Conforme Müller, os dois ramos tendem a sentir impactos positivos pelo fato de já terem experiência de vendas ao mercado europeu.
— Celebramos a conclusão das negociações, mas precisamos avançar em questões estruturais. O Brasil tem custos que impedem maior competição no mercado internacional, como grande carga tributária e problemas de logística — comenta Heitor Klein, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), sediada em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos.
O acordo ainda precisará ser aprovado pelos países que compõem ambos os blocos. O Mercosul tem Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai como Estados-partes — a Venezuela está suspensa. A União Europeia reúne 28 membros. Esse número cairá para 27 com a saída do Reino Unido.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta que o acordo poderá aumentar em US$ 9,9 bilhões as exportações brasileiras ao bloco europeu, elevação de 23,6% em 10 anos. A entidade ainda estima em 778,4 mil o número de empregos que podem ser criados com o incremento nos negócios.