O governo dos Estados Unidos cumpriu nesta quinta-feira (23) a promessa feita pelo presidente Donald Trump, ao seu par brasileiro, Jair Bolsonaro, de apoiar a candidatura do Brasil à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O anúncio oficial foi feito em Paris, durante a reunião ministerial da entidade — um think tank (centro de estudos) de melhores práticas econômicas que reúne a maior parte dos países desenvolvidos.
A promessa de Trump a Bolsonaro havia sido feita durante a visita do brasileiro a Washington, em março. Na oportunidade, Bolsonaro prometeu em troca que o Brasil abriria mão do tratamento especial e diferenciado na Organização Mundial do Comércio (OMC), ao qual tinha direito por ser um país em desenvolvimento.
Via Twitter, o Itamaraty comemorou a concordância americana: "Hoje na OCDE os EUA expressaram de modo claro e oficial seu apoio ao pleito do Brasil de ingressar na OCDE, uma prioridade do presidente Jair Bolsonaro".
O apoio desta quinta superou as expectativas da comitiva brasileira, que não esperava uma manifestação formal da delegação americana. Isso não quer dizer, contudo, que o caminho esteja aberto ao Brasil, já que por ora não há uma data prevista nem mesmo para o início do processo de adesão.
Até aqui, os Estados Unidos bloqueavam a aspiração brasileira de se tornar membro permanente da OCDE, mas manifestavam apoio à candidatura da Argentina. Agora, segundo um dirigente da comitiva brasileira envolvido nas negociações, há um consenso entre os membros da entidade de que Brasil, Argentina e Romênia devem iniciar seus processos de adesão.
O empecilho agora é imposto pelos países da Europa, que desejam que um outro membro europeu, no caso a Bulgária, seja incluído na próxima leva de adesões. A priori o governo americano não deseja a ampliação "excessiva" da OCDE.
O secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, confirmou que o caminho do Brasil está mais livre:
— A questão não é se apoiam ou não. Creio que já superamos essa etapa. A questão é: como vamos traduzir esse desejo político em instruções específicas para avançar — explicou. — O que aconteceu agora é que houve novos eventos, novas informações. E dados esses eventos e informações, nós vamos começar a discutir de novo e tentar movimentar a agenda. — disse.
Segundo Gurría, agora será possível avançar mais rápido em todas as adesões, mas o Brasil pode ser beneficiado em termos de tempo de processo por já ter aderido a 73 de um total de 248 "instrumentos" — decisões, recomendações, declarações, acordos internacionais e entendimentos — que a OCDE preconiza aos seus países-membros.
— Todos os países, e o Brasil em primeiro lugar, estão todos os dias entrando em um novo instrumento, juntando-se a um novo comitê, um novo subcomitê. Isso significa que quando você tem o início oficial (da adesão), eles vão cortar o processo por todos os esforços que já estão fazendo. Porque todos esses esforços terão de ser feitos de toda forma ao longo do processo — afirmou.
Ainda que não tenha uma data iniciar seu processo de ingresso na OCDE, por outro lado ainda não teve perdas ao renunciar ao tratamento especial na OMC. A opinião é do embaixador brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da instituição.
— O Brasil adotou uma postura de que, no futuro, não vai fazer uso de todas as flexibilidades (a que hoje tem direito). Meu entendimento é de que na medida em que possa fazer mais, vai fazer mais. Outros países não anunciaram, mas pensam mais ou menos da mesma forma — explicou Azevêdo. — O Brasil disse que nas negociações futuras, vai abrindo mão. Mas o futuro ainda não é presente. —afirmou.