O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta terça-feira (14) que a falta de clareza sobre as políticas do governo Jair Bolsonaro cria dificuldade para que os parlamentares aprovem a reforma da Previdência. Segundo o deputado, as mudanças no sistema de aposentadoria não são suficientes para resolver os problemas de desemprego e desigualdade social no país.
— Ainda não compreendemos, olhando a longo prazo, quais são as políticas que esse governo trouxe para sobrepor os 13 anos de governo do PT, que trouxe uma agenda que foi muito criticada, inclusive pelo DEM. Não é o DEM que está no governo, mas a direita mais extrema que está no governo, e até agora a gente não entendeu qual é essa agenda. Esse também é um outro problema: se a gente sabe como tirar algo que se esgotou, mas a gente ainda não sabe o que colocar no lugar, isso também gera certo desconforto na relação entre os Poderes, porque o deputado vai votar uma matéria como a Previdência e quer entender como essa votação vai gerar um impacto na melhoria da qualidade de vida dos seus eleitores — afirmou Maia durante palestra em Nova York para investidores e empresários.
Segundo o presidente da Casa, há um presidente eleito, mas também um Parlamento eleito e que, muitas vezes, as agendas não são necessariamente coincidentes — desde o governo Michel Temer, Maia trabalha para capitalizar a aprovação da reforma da Previdência.
— Por que o Parlamento não aceita tudo o que o presidente da República coloca já que ele foi eleito presidente da República? É porque a gente não vive na Venezuela, a gente vive no Brasil e nosso sistema, graças a Deus, é diferente daquele.
Ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, que também defenderam a necessidade de aprovar a reforma, Maia afirmou que ele mesmo tem invertido o discurso para buscar alternativas que organizem "a outra parte das despesas públicas".
— A Previdência sozinha não vai resolver o nosso problema de crescimento, de geração de emprego. Isso está sendo muito propagado no Brasil. Eu parei de fazer isso há 30 ou 40 dias quando percebi que estava errando. Não haverá, no dia seguinte (à aprovação da reforma) o que nós esperamos de resultado — disse Maia.
O governo Bolsonaro tem tido dificuldade de articular uma base sólida no Congresso para fazer avançar medidas consideradas prioritárias, como as mudanças na aposentadoria. Esta é a principal bandeira da equipe econômica comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
— Precisamos organizar a outra parte das despesas públicas, como é que vamos, num país com 13 milhões de desempregados e 15 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, organizar o Estado para atender a essas pessoas? — indagou Maia.
O chefe do Senado, por sua vez, disse que a presença dos presidentes dos três Poderes diante da plateia de investidores tinha o objetivo de "passar para o cenário internacional que estamos em harmonia" no empenho para a aprovação da reforma da Previdência.
— Dizer que os poderes constituídos, mesmo nesse novo formato do Parlamento, já compreende que as reformas são fundamentais para darmos segurança aos senhores que confiam no Brasil, acreditam nesse países com muitas oportunidades, tendo quase tudo por fazer na questão de logística e competitividade, que o Parlamento está atento a isso — ressaltou Alcolumbre.
Maia admitiu mais uma vez que há uma tensão no relacionamento entre Congresso e Planalto e afirmou que isso é fruto da relação da sociedade com a política. Mas ponderou que Bolsonaro e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, têm participado mais na articulação e diálogo com os parlamentares nos últimos dias.
Ex-ministro da Defesa na gestão do PT, Nelson Jobim era o mediador do debate entre Maia, Alcolumbre e Toffoli, e disse que a tensão entre os Poderes tem que ser superada.