Para quem trabalha nos quiosques e estabelecimento da beira-mar ao longo das praias do Litoral Norte, 2018 não está sendo um ano fácil. A temporada de ida às praias nem começou oficialmente, mas entre os comerciantes que trabalham nas areias e calçadões, há um sentimento em comum: esperança.
Quando questionados sobre o ano que se encerra neste mês, eles são categóricos ao dizer ele não está sendo generoso. Por isso, toda a expectativa está depositada nos veranistas, que começam a chegar ao longo dos próximos dias e ficam nas praias até o início de março. Para os comerciantes, são estes turistas que costumam salvar o orçamento até a próxima temporada.
Em Quintão, o movimento fraco dos últimos meses preocupa Francisco Veiga, 72 anos. Proprietário de uma pequeno armazém e de uma pousada com quase cinco décadas de existência, ele demonstra tristeza com o abandono da região:
— A infraestrutura do nosso balneário não evolui. Isso desanima as pessoas. As ruas, por exemplo, estão esburacadas. Mas nem tudo é ruim, o que nos salva é que somos uma praia barata, onde os preços absurdos não chegam.
Para Francisco, outro fator que prejudicou o movimento no litoral gaúcho durante esta baixa temporada foi o "ano atípico".
— Para quem vive da praia foi complicado. Foi um ano de muito frio e chuva, principalmente, em feriados. Com o tempo ruim, as pessoas deixaram de vir — conta ele.
A prefeitura de Quintão explicou, em nota, que irá aumentar reforçar as equipes que atuam na praia durante o verão, deixando o local mais limpo e preparada para os veranistas.
Prejuízo
Mais ao norte, a sensação é a mesma. Na praia de Imbé, o casal Salvador Gomes, 64 anos, e Maurícia Melo, 60 anos, está apostando todas as fichas nos próximos dias. A esperança é de que o calor traga mais veranistas para a cidade. O casal administra um quiosque no calçadão da orla há 20 anos.
— O tempo ruim prejudicou o movimento nesse ano. A gente espera que o verão tenha aquele bom movimento de sempre, ou até mais — projeta Salvador.
Ainda em Imbé, na praia de Mariluz, além do público reduzido durante o ano, a quiosqueira, como se autointitula, Marilene dos Santos, 57 anos, reclama do vandalismo. Segundo ela, a falta de segurança na praia fez com que só o relógio d'água do seu quiosque já tenha sido quebrado quatro vezes neste ano. Com isso, o prejuízo vem na conta.
— Em uma das ocasiões vazou três mil litros de água. Olha o desperdício que isso gerou. Os lucros já são mínimos durante o ano, aí ainda acontece isso. Espero que durante o verão tenham mais ações da prefeitura para diminuir isso — relata Marilene.
A prefeitura de Imbé, município ao qual também pertence a praia de Mariluz, explicou que irá reforçar a segurança durante o verão com o auxílio da Brigada Militar e da Guarda Municipal. Em nota, a administração disse que está em implementação o programa "Imbé Mais Seguro". A ação inclui a contratação de 40 guardas municipais. Os novos agentes atuarão a partir de 2019.
Expectativa é por temporada com mais vendas
Se depender da expectativa de quem lida com o comércio na praia, esse verão será de bons ventos. Na visão de Marcelo Marques, vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Imbé e Tramandaí, duas das principais praias do Litoral Norte, a temporada tende a apresentar resultados superiores à de 2017. Isso porque, segundo ele, os últimos dois meses já apresentaram uma tendência de melhoria nas vendas, e com a chegada dos turistas, esse quadro deve ser ampliado.
— Foi um ano difícil, de sobrevivência. Além da crise nacional, ainda tínhamos um cenário estadual ruim também. Agora, o dinheiro está começando a rodar novamente no comércio — explica Marcelo.
Inverno
Quando o calor e os veranistas irem embora junto com o mês de março, a queda no movimento chegará. Ciente disso, Marcelo conta que a ideia é que as praias comecem a trabalhar mais a ideia de eventos fora da temporada de verão. Isso atrairia o público para as cidades do Litoral Norte com atrativos que vão além da praia.
— Já temos os veranistas, mas queremos também de turistas, aqueles que vem em qualquer parte do ano — brinca o vice-presidente do CDL de Imbé e Tramandaí.