A prisão de Carlos Ghosn no Japão por suposta sonegação de renda ameaça nesta terça-feira (20) o império automotivo Renault-Nissan-Mitsubishi, cujo equilíbrio dependia de um único homem. O empresário, de 64 anos, presidente do conselho de administração da Renault, continua preso nesta terça-feira (20) em um centro de detenção de Tóquio, um dia depois de ser detido quando saía de seu jato privado.
A procuradoria confirmou que ele foi detido por suposta sonegação de renda. Segundo um comunicado, Ghosn "conspirou para minimizar sua retribuição em cinco ocasiões entre junho de 2011 e junho de 2015". No total, foram declarados à Receita 4,9 bilhões de ienes (cerca de 37 milhões de euros), enquanto Ghosn havia ganho quase 10 bilhões de ienes nesse período, apontou a procuradoria.
Na França, o ministro da Economia, Bruno Lemaire, pediu a funcionários de seu governo que "verificassem a situação fiscal de Carlos Ghosn na França". O todo-poderoso dirigente franco-libanês-brasileiro foi detido na segunda-feira (19) por uma investigação interna realizada pela Nissan, que enviou os resultados à Procuradoria.
Em uma entrevista coletiva, o presidente-executivo da construtora de automóveis japonês, Hiroto Saikawa, também mencionou "outras malversações, como o uso de bens da empresa com fins pessoais".
Segundo a assessoria de imprensa Kyodo, que citou fontes próximas ao caso, ele teria se hospedado gratuitamente em várias propriedades da companhia na Holanda e em outros três países.
Aliança
Para as autoridades japonesas e francesas, como o presidente francês, Emmanuel Macron, e o ministro da Indústria japonesa, Hiroshige Seko, a prioridade agora é "a estabilidade da aliança" das três marcas.
Em um comunicado conjunto, os governos francês e japonês reafirmaram seu "importante apoio" à aliança entre a Renault e a Nissan, um dia depois da detenção de Ghosn.
O ministro Bruno Le Maire e su homólogo japonês da Economia, Hiroshige Seko, "reafirmaram o importante apoio dos governos francês e japonês à aliança entre Renault e Nissan", em uma conversa por telefone, diz o comunicado.
A Renault possui 43% da Nissan, que por sua vez tem 15% de Renault e 34% da Mitsubishi Motors.
Antes de ser detido, Ghosn trabalhava para que a aliança Renault-Nissan, que fabrica 10 milhões de carros anuais, fosse "irreversível", comentou em nota Kentaro Harada, analista da SMBC Nikko Securities.
— Não podemos excluir a possibilidade de que a aliança se veja debilitada. (...) Sobretudo, a questão principal é ver se isso alterará o equilíbrio do poder" entre as partes francesa e japonesa — acrescentou o analista.
O tema também é muito sensível na França, onde o Estado controla 15% do capital da Renault. Segundo Harada ainda restam muitas dúvidas a serem resolvidas.
— Por que foram descobertas agora as malversações? Como Ghosn, como Greg Kelly [outro responsável da Nissan detido], teriam conseguido falsificar documentos sozinhos? — pergunta.