Em meio à crise financeira e humanitária na Venezuela, o país deve ter uma hiperinflação de grandes proporções até o final de 2018: 1.000.0000%, informou o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta segunda-feira (23).
O colapso econômico do país se espalhará cada vez mais para os países vizinhos, alertou o FMI em sua perspectiva regional atualizada para a América Latina.
— Estamos projetando um aumento na inflação para 1.000.000% até o final de 2018 para sinalizar que a situação na Venezuela é semelhante à da Alemanha em 1923 ou do Zimbábue no final dos anos 2000 — disse Alejandro Werner, chefe do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI.
No entanto, essa estimativa tem um grau muito maior de incerteza do que a maioria das previsões de inflação, ressaltou Werner a jornalistas.
— Ainda assim, se a taxa for de 1.200.000% ou de 800.000%, a destruição dos preços como o mecanismo de alocação de recursos já aconteceu — declarou o economista.
A economia da Venezuela deverá sofrer uma contração de 18% este ano, o terceiro consecutivo de declínios de dois dígitos. Isso significa que o país, que já está vendo fluxos de cidadãos fugindo da crise, terá sofrido uma contração econômica de 50% nos últimos anos.
O especialista do FMI apontou para as "distorções" econômicas nas políticas da Venezuela, "incluindo a impressão de dinheiro para financiar o governo".
— A expectativa é de que o governo continuará com amplos déficits fiscais financiados inteiramente por uma expansão da base monetária, o que continuará a alimentar uma aceleração da inflação, à medida que a demanda por moeda continuará a colapsar", diz o comunicado.
Dados da Opep mostram que a produção de petróleo da Venezuela caiu ao nível mais baixo em 30 anos, alcançando 1,5 milhão de barris por dia em junho, apesar de o país ter as maiores reservas de petróleo do mundo.
A nação sul-americana tira 96% de sua receita da venda de petróleo, mas no governo do presidente Nicolás Maduro, a falta de divisas provocou paralisia econômica, o que contribui para a grave escassez vivida no país.
O colapso da Venezuela reduz o crescimento da América Latina e do Caribe para 1,6% neste ano, quatro décimos abaixo da previsão anunciada pelo FMI em maio. Excluindo a Venezuela, no entanto, a região "continua se recuperando" pela retomada do consumo, com um crescimento de 2,3% neste ano e de 2,8% em 2019.
A Argentina, que acaba de assinar um acordo de empréstimo com o FMI, deve ver seu crescimento econômico desacelerar para 0,4% este ano, em vez dos 2% previstos em maio. Mas o país deve ver uma recuperação gradual em 2019 e 2020, que será apoiada pela confiança restaurada sob o programa de estabilização apoiado pelo Fundo, disse Werner.