Uma empresa especializada em comprar companhias, fazê-las crescer e depois revender é a nova dona das operações da Walmart no Brasil. Controladora da rede gaúcha Quero-Quero, a gestora de investimentos Advent International vai ficar com 80% do negócio – o restante segue com a varejista americana.
Na tentativa de começar a reverter a sequência de maus resultados no mercado nacional, a tendência é de apostar mais no setor de atacarejo (lojas que vendem para pessoas jurídicas e físicas) e pontos menores, de vizinhança. O valor da transação não foi revelado, mas cogita-se que o Walmart receberá apenas percentual referente ao desempenho da operação daqui para a frente.
Em 20 anos no país, a Advent já aplicou cerca de R$ 16 bilhões em 57 empresas brasileiras. Hoje, tem na carteira negócios como Estácio (Ensino Superior), Easyinvest (serviços financeiros), Restoque (varejista dona de marcas como Le Lis Blanc e Dudalina) e IMC (restaurantes Viena e Frango Assado).
A intenção não seria reestruturar o negócio por meio de cortes e enxugamentos, mas via expansão.
Quando comprou a Quero-Quero, em 2008, a rede de materiais de construção tinha 170 lojas. Hoje, são 260 e a gestora prepara a abertura de capital da empresa na bolsa, provavelmente ainda neste ano. O grupo de educação Kroton tinha 40 mil alunos antes da chegada da Advent, em 2009. Quando saiu, em 2013, eram mais de 1 milhão.
— Gestores de private equity como a Advent compram empresas, colocam a gestão que consideram mais adequada para crescer e ganhar valor. Depois de alguns anos, vendem por preço maior. O estilo da Advent é investir para fazer crescimento e ficar no negócio pelo tempo necessário — diz Clovis Meurer, diretor e sócio da CRP, companhia gaúcha pioneira no private equity no país, e ex-presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap).
Intenção é assegurar preço baixo e melhorar atendimento
O consultor e professor do curso de Gestão em Supermercados da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) Jôni Franck Costa avalia que um dos desafios da nova direção será mudar o modelo de negócios e melhorar a imagem perante o consumidor.
— A visão deles não deu certo no Estado em razão do atendimento. A qualidade foi negligenciada. Só preço baixo não é estratégia que se sustenta — avalia Costa, que entende ser o atacarejo a grande aposta dos novos donos.
Maior varejista do mundo, no Brasil o Walmart é a terceira maior rede, com faturamento de R$ 28,1 bilhões no ano passado, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). No Estado, teve a maior receita, de R$ 5,6 bilhões, conforme ranking da Agas.
Encerrou o ano passado com 99 lojas no Rio Grande do Sul, quatro a menos do que no ano anterior. A empresa tem fechado unidades consideradas deficitárias e decidiu abandonar suas outras bandeiras, como Nacional e Big, para unificá-las à marca Walmart, ação cuja continuidade segue sem definição. Hoje, são 471 lojas no país, de nove bandeiras diferentes. Outra estratégia é reforçar as vendas online.
À frente da Advent no Brasil, o sócio-gerente Patrice Etlin disse nesta segunda-feira (4) que, além de continuar a oferecer preços baixos, quer melhorar a experiência de compra dos consumidores nas lojas.