As tarifas sobre a importação de aço e alumínio anunciadas na quinta-feira (1) pelo presidente Donald Trump foram rejeitadas pelos demais setores da economia dos Estados Unidos, que alertaram para o aumento de preços de seus produtos e o risco de retaliação por parte de outros países, na forma de barreiras às exportações americanas.
O temor de que a medida provoque uma guerra comercial em escala global provocou quedas nos mercados acionários em todo o mundo nos dois últimos dias. O porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), Garry Rice, afirmou que as barreiras afetarão não apenas os fornecedores externos de aço e alumínio dos EUA, mas as indústrias dentro do país que dependem desses insumos para fabricar seus produtos finais - entre os quais estão carros, eletrodomésticos, latas, aviões e máquinas.
Na sexta-feira (2), Trump voltou a defender sua ofensiva protecionista, que acentuou as divisões entre seus principais assessores econômicos. "Quando um país (EUA) está perdendo bilhões no comércio com virtualmente todos os países com os quais transaciona, guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar", escreveu o presidente no Twitter.
O anúncio das tarifas foi feito de forma atabalhoada na quinta-feira, sem que os detalhes finais da decisão estivessem finalizados. Trump disse que as alíquotas serão de 25% para o aço e de 10% para o alumínio e que a assinatura da medida ocorrerá apenas na próxima semana.
Segurando uma lata de sopa Campbell's e outra de Budweiser, o secretário do Comércio, Wilbur Ross, tentou minimizar o impacto da decisão sobre o preço final de bens que usam aço e alumínio. "Em uma lata de sopa Campbell's há cerca de 2,6 centavos de aço. Se o preço subir 25%, isso equivale a seis décimos de 1 centavo", afirmou em entrevista à rede CNBC. "Quem no mundo vai se importar com isso?"
Em entrevista à TV Bloomberg, Ross indicou que não deverá haver exclusão de países na aplicação das medidas. "Entre as opções que eu apresentei, o presidente Donald Trump escolheu essa, que é a imposição de tarifas sobre todos os produtos de todos os países."
Segundo maior exportador de aço para os EUA no ano passado, o Brasil pediu para ser poupado das barreiras sob o argumento de que exporta aço semiacabado, finalizado por siderúrgicas americanas.
Especialista em comércio internacional e professor da Universidade Brandeis, em Boston, Peter Petri afirmou que as tarifas elevarão de maneira acentuada os preços do aço e do alumínio, o que será uma ameaça para indústrias que os utilizam em suas linhas de montagem. "É por isso que as ações da Boeing, Caterpillar e General Motors - que são importantes usuários de aço e alumínio - caíram depois do anúncio de Trump", observou.
Setores que não dependem desses insumos também podem sofrer em razão da provável retaliação por parte de outros países. Um dos mais vulneráveis é o agropecuário. Petri ressaltou que os segmentos potencialmente afetados empregam muito mais pessoas do que as indústrias que Trump quer proteger.
Segundo ele, a afirmação do presidente de que guerras comerciais "são boas e fáceis de vencer" contraria tudo o que historiadores e economistas escreveram sobre o assunto. "Guerras comerciais aumentam os preços, desestabilizam cadeias de fornecimento e matam oportunidades de negócios. Grandes países como a China e os Estados Unidos podem sofrer menos que os menores, mas não haverá vencedores."
Segundo o Instituto Americano de Ferro e Aço, o setor emprega 140 mil pessoas de forma direta e quase 1 milhão de maneira indireta. Só a indústria automobilística garante 7 milhões de postos de trabalho diretos e indiretos, disse em nota Matt Blunt, presidente do Conselho Americano de Política Automotiva. O executivo afirmou que a alta de preços de aço e alumínio colocará os fabricantes americanos em desvantagem em relação a concorrentes globais.
Veículos foram o quinto maior produto de exportação dos Estados Unidos no ano passado, com embarques de US$ 130 bilhões, o equivalente a 8,4% do total. As exportações de aço americanas foram de US$ 12,49 bilhões (0,8%) no mesmo período, mostram dados do Departamento do Comércio.
"Não se equivoquem, isso é um imposto sobre as famílias americanas", declarou o presidente da Federação Nacional do Comércio, Matthew Shay. "Essas tarifas ameaçam destruir mais empregos nos EUA do que criar, ao mesmo tempo em que enviam sinais alarmantes a nossos parceiros comerciais e diminuem os mercados para produtos americanos no exterior."