Analistas do mercado financeiro veem com ceticismo a decisão do governo do Estado de adiar, nesta quarta-feira (6), a venda de parte das ações do Banrisul, apontada como uma das soluções para gerar caixa aos cofres públicos do Estado. Como justificativa, o Piratini citou "condições desfavoráveis de mercado". No fechamento desta quarta-feira (6), as ações do banco ficaram em torno dos R$ 14,30 — cotação considerada abaixo do valor patrimonial da instituição. O recuo acende o sinal vermelho nas contas do governo. A expectativa era de que o dinheiro arrecadado na negociação também ajudasse no pagamento integral da folha de dezembro e do 13º salário dos servidores.
O governo pretendia colocar à venda 128 milhões de ações do Banrisul — 49% de ações ordinárias e 14,2% de ações preferenciais. Com a transação, o governo esperava arrecadar de cerca de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões.
Por meio de nota, o Piratini informou que a decisão final sobre a venda das ações "dependerá de novas avaliações técnicas que estão sendo feitas". No comunicado, o governo destaca que "segue buscando alternativas para o equilíbrio financeiro do Estado". A decisão foi criticada por especialistas de mercado financeiro consultados por GaúchaZH.
Débora de Souza Morsch, sócia e diretora da Zenith Asset Management, afirmou que o adiamento não deve aumentar o potencial de lucro do governo com a negociação dos papéis em relação ao seu valor de patrimônio. No entendimento da analista, o método de venda adotado pelo governo, sem piso estipulado e com valor de mercado, é uma solução momentânea. Débora destaca que a solução ideal para o governo ganhar caixa e aderir ao regime de recuperação fiscal seria a venda total das ações do banco:
— Com essa forma de vender o excedente, o Estado está tapeando, vendendo um ativo muito valioso de maneira errada. O governo precisa encarar de vez que tem um ativo valioso que precisa ser bem vendido para salvar o Estado — disse.
O professor de investimentos da ESPM Sul Marco Antônio dos Santos Martins entende que a decisão do Piratini é contraditória, pois a situação financeira do Estado não permite esse tipo de aposta no mercado financeiro. Para Martins, o governo deveria adotar uma estratégia de vender as ações o mais rápido possível para garantir caixa e ganhar fôlego no enfrentamento da crise.
— A venda de ações do banco é uma situação emergencial e o governo está fazendo uma aposta, imaginando que os mercados vão subir e que ele vai conseguir um pouco mais de dinheiro. Acho que esse processo deveria andar o mais rápido possível, dada a urgência que o Estado tem de fazer caixa.
Martins afirma que estimativas apontam que o mercado de ações deve apresentar cenário positivo nos próximos meses, mas que esse contexto hipotético é uma aposta, "que pode dar certo ou errado".