Após dois anos de marcha à ré na economia, em 2017 o país começou a ver lentamente a recessão se afastar pelo retrovisor, enquanto o 2018 que se avizinha parece marcar a reaceleração do crescimento. Salvo algum obstáculo que torne o caminho mais acidentado, o consenso do mercado expressado no Boletim Focus, do Banco Central, aponta que o Brasil terá avanço de 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB), depois de recuar 3,5% em 2015, repetir a dose em 2016, e expandir em torno de 1% neste ano (veja o gráfico abaixo).
A força motora da retomada, repetindo os períodos mais recentes de bom desempenho da economia brasileira, será o consumo das famílias. Também após dois anos seguidos de retração, o indicador voltou a subir em 2017, empurrado pela redução – mesmo que pequena – do desemprego, melhora da renda, queda da taxa básica de juro (Selic) e inflação sob controle, uma engrenagem que deixou mais dinheiro no bolso da população e melhorou a confiança para ir às compras.
A percepção da melhora de ambiente e a desconfiança menor do consumidor em relação ao futuro se refletiram nos resultados do comércio, que espera crescer a taxas mais altas em 2018. Com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) até outubro, o varejo nacional deve ter aumento de 3,7% nas vendas em 2017, a primeira alta desde 2014. Para 2018, a expectativa é de chegar a algo entre 4,5% e 5%, diz o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
– Para o próximo ano, segue o cenário de inflação baixa, e os juros tendem a continuar a cair. Não a Selic, mas as taxas cobradas dos consumidores. Isso impulsiona as vendas a prazo. Outro ponto fundamental é o resgate do mercado de trabalho, o que leva à reação positiva de aumento da confiança – avalia Bentes.
O gerente de análise econômica do Sicredi, Pedro Ramos, projeta que, à medida que os cortes da Selic cheguem à ponta, será criado um grande volume de renda, que vinha sendo gasto em juro e, agora, poderia ser direcionado para o consumo, fazendo a roda da atividade girar mais rápido. Ele observa que, além de as famílias terem diminuído o percentual da renda comprometido com financiamento, o custo desse crédito também vem caindo.
Ou seja, há movimento de trocar dívidas mais caras por mais baratas. A fatia dos ganhos desembolsada com juros, hoje em 9,8%, deve cair para 8% ao longo de 2018, estima Ramos. Trata-se de uma diferença de R$ 120 bilhões.
– Com o mercado de trabalho voltando a gerar postos, a queda dos spreads (diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar e a taxa que paga ao captar dinheiro) deve continuar acontecendo – espera Ramos.
A melhora do perfil do endividamento do brasileiro, segue o economista, começou a puxar setores da indústria, como veículos e eletrodomésticos, itens de maior valor que, na crise, ficaram fora da cesta de consumo das famílias. O setor, primeiro a sentir os sinais da crise, também está no terreno positivo. Segundo o IBGE, cresce 1,9% no ano, até outubro.
O gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, avalia que, após o avanço do setor ser puxado neste ano pelo consumo, em 2018 o crescimento ganhará mais qualidade também com o retorno dos investimentos. Com isso, a entidade projeta que a indústria avance 3% no próximo ano, alavancada pela alta de 3,5% do desempenho das fábricas.
– Esperamos crescimento de 4% no investimento, após nova queda em 2017 – diz Castelo Branco, esperançoso de que o indicador, em 2018, quebre uma sequência negativa de quatro anos seguidos de retração.
Importante por identificar o apetite das empresas na aquisição de máquinas, equipamentos e material de construção, por exemplo, o investimento mostra, em síntese, maior confiança do setor produtivo no futuro, pela expectativa de melhora nos negócios. Castelo Branco alerta que essa disposição, no entanto, será maior ou menor dependendo de fatores como o sucesso do governo federal em encaminhar reformas, como a da Previdência, ou de um quadro eleitoral que gere maior instabilidade e volte a turvar o horizonte.