Com o maior peso na economia do Estado, a região metropolitana de Porto Alegre ainda amarga saldo negativo no emprego formal tanto no acumulado de 2017 quanto no intervalo de um ano, mas o movimento de recuperação já é nítido.
No período de 12 meses até setembro, a Capital e os municípios do entorno registraram corte de 15,4 mil postos com carteira assinada, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Em março de 2016, com o país paralisado às vésperas do impeachment da presidente Dilma Rousseff, a diferença entre demissões e admissões no mesmo espaço de tempo alcançou o auge desde o início da recessão e chegou a 53,8 mil. Ou seja, o corte de vagas caiu 70% em comparação ao momento mais crítico. A última vez que a Região Metropolitana teve saldo positivo no período de 12 meses foi em janeiro de 2015.
O economista Guilherme Stein, da Fundação de Economia e Estatística (FEE), lembra que o emprego é uma variável que costuma reagir depois do início de um ciclo de aceleração ou desaceleração da atividade. O mercado de trabalho, observa, começou a piorar depois de a recessão já estar instalada no país. Agora, com a crise ficando lentamente para trás, inicia o refluxo.
– A trajetória da recuperação do emprego é o reflexo da retomada da economia, extremamente tímida – diz Stein.
Os dados do Caged mostram ainda que os resultados tanto da Região Metropolitana quanto do Estado são puxados para baixo devido ao mau desempenho de Porto Alegre na criação de empregos. No ano, a Capital tem saldo negativo de 7 mil vagas. O pior desempenho é no setor de serviços, mas comércio e indústria de transformação também ajudam a pressionar o mercado de trabalho. Apenas a construção civil tem resultado positivo.
– A retomada está muito lenta. Não dá para dizer que está bom. Apenas está menos pior – define o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Porto Alegre (Sticc), Gelson Santana.
Nos nove meses do ano, o Rio Grande do Sul tem saldo negativo de 630 postos de trabalho, enquanto no país o resultado é positivo, com 208,8 mil contratações a mais do que desligamentos.
De janeiro a setembro de 2017, a Região Metropolitana também segue no vermelho, com a perda de 2,8 mil vagas. Mas, em setembro, isoladamente, o resultado foi positivo em 983 postos, dando mais um indício da recuperação do mercado de trabalho.
Para Stein, não é surpresa o Interior apresentar recuperação mais forte uma vez que a retomada da atividade, tanto no Estado quanto no país, começou com a agricultura. O consumo das famílias, que impacta mais setores como serviços e comércio, base da economia das capitais, voltou para o terreno positivo apenas no segundo trimestre de 2017, após quase dois anos de retração. O economista da FEE observa que a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada na última terça-feira pelo IBGE, revela estagnação da renda, o que indica retomada vagarosa do consumo.
A Pnad também voltou a mostrar que a queda do desemprego tem ocorrido mais pelo aumento de pessoas que partem para o trabalho por conta própria do que por abertura de vagas com carteira assinada.
– Os empresários estão contratando apenas o mínimo indispensável – observa Mauro Rochlin, professor do MBAs da Fundação Getulio Vargas.
Para o especialista, os empregos de mais qualidade vão aparecer somente com a retomada dos investimentos que, por sua vez, dependem de melhor previsibilidade política em relação às eleições de 2018.