O Brasil soma até setembro a criação de 208 mil postos de trabalho formais, mas o resultado deve ser atribuído aos municípios do interior. Os números do Cadastro Geral de Empregados de Desempregados (Caged) mostram que, nas capitais, o saldo é negativo em 85,6 mil vagas.
O mesmo ocorre com as regiões metropolitanas. Nos nove primeiros meses do ano, a diferença entre demissões e admissões chega a 99 mil nas nove áreas levadas em consideração pelo Ministério do Trabalho. Somente os conglomerados urbanos das capitais de São Paulo e Minas Gerais têm geração de vagas.
Apesar de ser o setor de serviços que ainda falta engrenar recuperação na economia, é o comércio que apresenta o pior resultado do emprego nas capitais. Os varejistas eliminaram 48 mil postos com carteira assinada nessas cidades, seguidos pela construção civil (21,7 mil).
Os serviços, por sua vez, têm resultado positivo de 8,2 mil empregos, mas graças à influência paulistana, que gerou 29 mil vagas. Para a economista-chefe da Federação das Associações Comerciais de Bens e Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, a tendência é de que o setor lojista tenha um melhor desempenho nos últimos meses do ano, por fatores sazonais:
– A contratação de temporários tende a melhorar os resultados da geração de empregos no setor de comércio nos meses de setembro, outubro e novembro. Mesmo em anos muito ruins para a geração de emprego, como foram 2015 e 2016, isso aconteceu. Tanto as pesquisas realizadas sobre a intenção de contratação quanto o Caged de setembro apontam nessa direção.
No Rio Grande do Sul, onde as dispensas superaram as contratações até setembro em 630 postos, o balanço seria positivo não fosse o grande peso de Porto Alegre. No Interior, a recuperação ocorre de forma mais acelerada. No acumulado de 2017, chega a 268 o número de municípios com aumento de postos de trabalho formais.
Esse contingente soma, ao longo do ano, 21,1 mil vagas criadas. Ano passado, 243 municípios tiveram mais admissões do que demissões no Rio Grande do Sul, mas o resultado líquido do grupo foi de apenas 10,5 mil postos, menos da metade do observado este ano.
Entre os maiores municípios do Estado, o melhor desempenho é o de São Leopoldo, com 1,4 mil postos. Outro exemplo de recuperação vem de Caxias do Sul, cidade que começou a ver o desemprego crescer ainda em 2014. Neste ano, foram 1 mil vagas formais criadas.
A observação dos números do Caged mostra que a diferença está na indústria de transformação e nos serviços, observa Patrícia. Enquanto nas fábricas há criação líquida de 6,9 mil vagas no Interior, na Capital há destruição de 1,3 mil. No fim, o saldo positivo do Estado fica em 5,6 mil.
Nos serviços, o cenário se repete. O segmento gerou até setembro 4,8 mil postos de trabalho formais nos demais municípios, mas em Porto Alegre foram 3,5 mil empregos com carteira perdidos. Para Patrícia, o ritmo de contratações é ligado ao nível de ociosidade de cada setor. A indústria vem contratando mais no país como um todo porque, entre 2014 e 2016, perdeu cerca de 1 milhão de vagas. Comércio e serviços, por outro lado, ainda tiveram resultado positivo em 2014, começaram a demitir em 2015, mas apenas no ano passado superaram a indústria no saldo negativo, apesar da força muito maior de trabalho.