Com a crise, a tentativa de recolocação no mercado de trabalho tornou-se um exercício de persistência na Grande Porto Alegre. Em julho, o tempo médio gasto na procura por empregos subiu para 39 semanas na região. Isso significa que os trabalhadores que perderam suas vagas ficaram em torno de nove meses buscando novas oportunidades. É o período mais longo desde dezembro do ano passado, quando o intervalo era de 40 semanas, mostra a Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre (PED-RMPA).
– A demora é resultado da crise. As empresas pararam de contratar, e há mais pessoas procurando trabalho — resume a economista Virginia Donoso, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), um dos responsáveis pela PED.
Ao longo de 2017, o indicador apresentou relativa estabilidade — em janeiro, estava em 38 semanas. Mesmo sem grandes avanços nos últimos meses, o intervalo de julho é 116,7% mais elevado do que o menor período da série histórica, iniciada há 25 anos. Em agosto e setembro de 2014, quando a recessão mostrava seus primeiros sinais no país, o tempo médio atingiu o piso de 18 semanas, o equivalente a quatro meses, na Grande Porto Alegre.
— O indicador contempla quem, ao fim de um período, encontrou trabalho ou desistiu de procurar emprego — frisa Virginia.
Em julho, o intervalo de busca por oportunidades foi maior entre mulheres (42 semanas ou quase 10 meses) do que entre homens (35 semanas ou oito meses). A pesquisa ainda mostra que os adultos (40 semanas ou nove meses) passaram mais tempo do que os jovens (37 semanas ou oito meses e meio) à procura de vagas.
A porto-alegrense Sandra Molina Barbosa, 38 anos, retrata o perfil de trabalhadores que permanecem em busca de recolocação no mercado por intervalos mais estendidos na Região Metropolitana. Desde que entrou na fila do desemprego, há 13 meses, passou a circular pela Capital à procura de vagas em diferentes áreas.
— Na semana passada, entreguei meu currículo em 12 lugares — conta.
Agora, Sandra espera pela sua aprovação em processo seletivo para ocupar uma vaga de operadora de caixa de supermercado, função que exercia antes de entrar na fila dos desempregados.
— Estou confiante — diz.
A exemplo de Sandra, Wendel Hoffmann, 41 anos, também encara a escassez de oportunidades. Em busca de ocupação desde que perdeu o emprego de motorista de caminhão, há um ano, o morador de Cachoeirinha começou a realizar trabalhos de maneira autônoma, como de servente de pedreiro, para pagar suas contas.
— Tenho dois filhos. Não dá para ficar parado. Nunca tinha visto uma crise assim — relata.