Divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira (6), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chamou a atenção por ter registrado a primeira deflação depois de 11 anos. Em junho, o indicador, que mede o aumento generalizado dos preços no país, teve variação negativa de 0,23%.
Deflação é bom ou ruim?
Embora haja queda nos preços, a deflação nem sempre é vista como algo bom por retardar o consumo. Apesar disso, o sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho, analisa que, no Brasil, o cenário é diferente:
– A deflação não é vista como boa quando é crônica, como no Japão. As pessoas esperam para comprar um carro porque estará mais barato no mês seguinte. No Brasil, acho pouco provável termos deflação estrutural. O país é consumista – ressalta.
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Especialistas apontam razões para a queda na inflação. Confira:
1. Redução nos preços dos alimentos
Especialistas relacionam a trégua na elevação generalizada dos preços a fatores com diferentes origens. Um deles é o recuo nos valores cobrados por alimentos e bebidas, que representam 26% das despesas das famílias, segundo o IBGE, e ficaram menos salgados neste ano em razão da abundante produção colhida nas lavouras:
– Essa queda está ligada à supersafra de grãos – avalia o professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV) Joelson Sampaio.
2. Efeitos do desemprego
Outro fator lembrado é a própria recessão. Com desemprego em alta, o brasileiro passa a consumir menos. E a tendência é de que haja ainda mais dificuldades para as empresas venderem seus produtos se os preços subirem.
– Com menos dinheiro, as pessoas não saem tanto de casa (para comprar). Os preços têm de cair uma hora – lembra o economista-chefe da gestora Quantitas, Ivo Chermont.
3. Recuo nos preços administrados pelo governo
Bianchi acrescenta que os preços administrados, aqueles controlados pelo governo, como os de energia e combustíveis, também passaram a recuar. A baixa ocorreu depois de terem disparado em 2015, quando a inflação fechou em 10,67% no acumulado do ano. Nos anos anteriores, aponta Bianchi, a gestão de Dilma Rousseff havia represado esses preços.
4. Mudança na gestão do Banco Central
Especialistas ainda mencionam que a mudança na gestão do Banco Central (BC), que tem a missão de controlar a inflação, animou as expectativas de investidores no país. Quando Ilan Goldfajn assumiu a presidência da instituição, em junho de 2016, o IPCA já estava em declínio, mas o que pesa na avaliação do mercado financeiro, diz Chermont, é a leitura de que a instituição poderá controlar o índice no médio e longo prazos. Ou seja, a percepção é de que terá capacidade para deixá-lo dentro da meta estipulada pelo governo.
Em 2017, o objetivo é encerrar o ano com o IPCA em 4,5%, podendo atingir o teto de 6% ou o piso de 3% sem configurar descumprimento da tarefa pelo BC.
– A economia está sujeita a choques. O Banco Central fica mais sensível a isso no curto prazo. Não consegue controlar se vai chover mais ou menos. Mas, quando o mercado olha no longo prazo, para 2020, por exemplo, acredita que a inflação estará dentro da meta – comenta Chermont.
5. Expectativas mais otimistas do mercado
Analistas financeiros consultados pelo BC vêm baixando as projeções para o IPCA, aponta o boletim Focus, divulgado semanalmente pela instituição. Conforme a edição mais recente do documento, publicada na segunda-feira (3), o mercado reduziu pela quinta vez seguida a previsão para o IPCA ao final de 2017, para 3,46%.
– Sem inflação baixa não se organiza uma economia. Inflação baixa ajuda na reconstrução da atividade. Para quem está desempregado, há perspectiva melhor para o futuro – observa Chermont.
No fim de junho, o governo decidiu diminuir a meta de inflação pela primeira vez em 14 anos. Ancorada em projeções do mercado, a referência a ser perseguida – hoje de 4,5% – será de 4,25% em 2019 e de 4% em 2020.
– Com o PIB (Produto Interno Bruto) negativo em dois anos, 2015 e 2016, a inflação arrefeceu. Agora, o país precisa retomar o crescimento para gerar empregos – acrescenta Sampaio.