Você cruza todo dia por elas e pode nem se dar conta. Lojas que estão em todos os shoppings e até na esquina de casa como Boticário, Subway e Cacau Show, só para citar três marcas gigantes no país. Pois essas lojas estão perto de você graças ao sistema de franquias, que permite a quem deseja ser empreendedor abrir uma unidade igual a qualquer outra no Brasil e no mundo.
Trata-se de um modelo no qual o proprietário, o franqueador, cede a outra pessoa, o franqueado, o direito de venda ou de prestação de serviço e de uso da marca. Para isso, é preciso um investimento inicial e, mensalmente, pagar pela cessão e pela manutenção dos direitos da franquia e contribuir com um fundo para ações de marketing e publicidade.
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Cada vez mais gente com gana de ter um negócio próprio escolhe essa opção. O faturamento do setor em 2016 deve confirmar crescimento de 8% em relação ao ano anterior, passando de R$ 139,5 bilhões para cerca de R$ 150 bilhões. Os dados preliminares são da Associação Brasileira de Franchising (ABF). A projeção é que a receita em 2017 cresça de 7% a 9%. Em unidades, o setor prevê que tenha havido uma expansão de 3,1% no ano passado, atingindo 142 mil pontos de venda.
– Mesmo em um ano tão desafiador, recebemos novos investidores, criamos empregos e entregamos crescimento, enquanto o varejo registrou quedas históricas – afirma o novo presidente da ABF, Altino Cristofoletti Junior.
Na Região Sul, o Estado é o segundo com mais franquias. A posição é honrosa porque perde para o Paraná, onde está a sede da maior franqueadora do Brasil, o Boticário.
– A franquia acaba sendo uma opção nas duas situações, com ou sem crise. Abrir do zero é muito mais arriscado hoje em dia, a concorrência é maior. Em todo tipo de negócio já existe alguém atuando e muito maior que você – diz a diretora da regional Sul da ABF, Fabiana Estrela.
Ela explica que o grande produto que a franqueadora transfere para o franqueado é o conhecimento. É como alguém pegando na sua mão e olhando junto o mercado local, os números, dizendo quando o caminho não está bom, uma espécie de atalho para o empreendedor novato. Para se ter uma ideia, a franqueadora até pode dizer se a cidade está saturada na área desejada e indicar outro local com potencialidade para o negócio.
Mas não basta estar com o dinheiro na mão – e pode nem ser tanto assim, veja em seguida – para entrar na barca do franchising. É obrigatório um treinamento presencial ou à distância, um período de preparação até se abrir a nova unidade.
Serve para mim?
Na hora de se decidir por esse tipo de negócio, procure não agir por impulso. Dois elementos são decisivos para saber se a franquia é uma boa ideia: se encaixar no modelo e a capacidade financeira. Porque, do contrário, o sonho pode virar um pesadelo.
– A pessoa precisa saber se tem o perfil de não ser mais funcionário, pois a dedicação tem de ser muito maior. Eu gosto de comer bolo, mas e fazer todo dia? Dificilmente vem do nada a decisão de abrir uma franquia, a pessoa já planejava dar esse passo – alerta a diretora da regional Sul da ABF, Fabiana Estrela.
Agora, se isso é questão resolvida, com o empreendedor entendendo que desligar depois do trabalho (como se faz quando se é empregado) não vai lhe pertencer mais, é hora de olhar para o bolso. E esse olhar tem de ser muito realista.
– O modelo é altamente eficaz. Mas, além do dinheiro para abrir a franquia, é preciso uma reserva financeira para o sustento da família por, pelo menos, cinco anos, sem pensar no faturamento do negócio. Ou seja, não dá para colocar toda a grana da rescisão, por exemplo, se essa for a única reserva – alerta o doutor em Educação Financeira e presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros, Reinaldo Domingos.
Ele sugere um exercício que pode parecer radical para quem está engatilhado para abrir uma franquia. Olhar para o valor que está prestes a investir e se perguntar: "Estou disposto a perder essa quantia? E se a perder, sigo em frente sem um grande abalo financeiro?". Se a resposta for sim, é sinal de que pode ir em frente. Do contrário, é preciso repensar.
Rotina mais leve, só que não
Antes de entrar para as franquias, Daniele Corleto Bussolin, 37 anos, imaginava ter um negócio próprio em que não precisasse trabalhar tanto quanto como empregada. Onde pudesse fazer os próprios horários. Hoje, quando lembra dessa ideia, cai na risada.
– O trabalho não sai mais de ti. Antes, tinha aquela coisa de sair do trabalho e se desligar. É preciso ter muita energia para se fazer isso – conta Daniele.
Ela é franqueada da Emagrecentro há sete anos. Antes disso, era representante comercial de uma empresa farmacêutica e atuava na linha estética. A migração total da vida como empregada para a de empreendedora foi totalmente segura, pé no chão. Em nenhum momento fez financiamento bancário para nada. Já tinha parte do dinheiro guardada e vendeu o carro para entrar no negócio. A Emagrecentro é considerada uma microfranquia, com investimento inicial para abrir de até R$ 80 mil.
– Não larguei de vez o emprego. Por alguns meses, me dividi entre as duas coisas por garantia. Meu marido também estava trabalhando. Se desse tudo errado, ainda assim estaríamos bem – diz a empreendedora.
Hoje, ela se divide entre três unidades da Emagrecentro em Porto Alegre, cada loja empregando entre sete e 10 pessoas.