O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou, nesta segunda-feira, que não existe compromisso do governo federal em cobrir eventual déficit primário nas contas públicas dos Estados neste ano. A União socorrerá os Estados apenas se houver espaço na meta fiscal de déficit primário de R$ 170,5 bilhões.
– O compromisso do governo federal foi com a meta do governo federal, de R$ 170,5 bilhões, e será cumprido – afirmou Meirelles, na saída de seminário promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
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Meirelles negou que o governo esteja abandonando o conceito de contas públicas consolidadas, na qual entram gastos e receitas da União, Estados e municípios. Segundo ele, "não há nem nunca houve" o compromisso de cobrir déficits dos Estados "por parte do Ministério da Fazenda".
– Caso a evolução das receitas públicas nos próximos meses e a previsão de gastos obrigatórios permitam que haja alguma sobra nesse déficit de R$ 170,5 bilhões, que é muito realista, aí sim, o governo federal certamente usaria uma parte disso para cobrir eventuais aumentos de déficit dos Estados – destacou Meirelles.
O ministro garantiu que eventuais gastos com a cobertura de déficit de outros entes da Federação ficarão limitados, necessariamente, aos R$ 170,5 bilhões da meta fiscal.
– Houve, sim, compromisso de controle dos Estados, que foi firmado de forma austera e bem-sucedida com a renegociação das dívidas – afirmou Meirelles.
Meirelles defendeu que o governo interino do presidente Michel Temer precisa cumprir contratos assinados na gestão anterior, da presidente afastada Dilma Rousseff. Segundo ele, um calote em acordos firmados antes da troca de comando no país poderia afetar a confiança.
– O governo anterior assinou diversos acordos com diversos segmentos do setor público. E é importante que governo cumpra acordos assinados. No momento que você começa a dar calote, você começa a perder confiança – avaliou Meirelles.
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O ministro acrescentou que as despesas com subsídios concedidos no governo Dilma também foram importantes para elevar os gastos públicos. No entanto, como o governo federal já reduziu as operações de subsídios, essa despesa passará a ter queda nominal ao longo do tempo, previu.
– Em 2010, o governo federal gastava R$ 10 bilhões com pagamentos de subsídios. Esse ano, a conta de subsídios será de R$ 30 bilhões, porque ainda estaremos pagando subsídios concedidos por bancos públicos em anos anteriores – explicou Meirelles.
O ministro declarou ainda que, para o ajuste e equilíbrio estrutural das contas públicas, é necessária a aprovação do teto nos gastos e a reforma da Previdência. No curto prazo, nos próximos dois ou três anos, Meirelles destacou que há espaço para o teto dos gastos começar a valer sem mexer imediatamente nas despesas com o INSS.
Segundo Meirelles, o governo Temer está pagando várias despesas atrasadas do governo anterior, da presidente afastada Dilma Rousseff. Segundo ele, o movimento é incompatível com a necessidade de realizar o ajuste fiscal, mas é necessário honrar os pagamentos.
As contas em atraso vão desde aluguel de embaixada brasileira no exterior até obras realizadas e fornecedores de equipamentos para as Forças Armadas.
– A maneira de solucionar tudo isso (o ajuste nas contas públicas) não é atrasar contas, isso só gera maus hábitos – defendeu Meirelles no evento.
"Sem a atual retomada, recessão seria a maior da história"
Henrique Meirelles afirmou que a recuperação da atividade econômica, que já aparece em indicadores antecedentes, evitará que a recessão atual por que passa o Brasil seja a maior da história. Mesmo assim, já será a maior desde 1930 e 1931, quando o País enfrentava a Grande Depressão, iniciada com a quebra da bolsa de Nova York, em 1929.
– Se não houvesse esta retomada, da qual já estamos vendo antecedentes e deve ocorrer, (a recessão) seria a maior da história brasileira. Essa retomada que estamos vendo para os próximos trimestres evita que seja a maior da história, mas ainda será a maior desde 1931 – afirmou Meirelles.
Em entrevista a jornalistas, Meirelles repetiu sua palestra de pouco antes, demonstrando confiança na aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) que cria um teto para os gastos públicos e de uma reforma da Previdência, que deve tornar a idade mínima obrigatória e valer já, com regras de transição para quem está próximo de se aposentar.
Meirelles ressaltou que o governo não tem como transformar um déficit de R$ 170 bilhões, como o previsto para este ano, em superávit num período de dois anos. Segundo ele, o superávit tem que ser sustentável.
O governo já iniciou o desenho de securitização e venda de ativos, e o BNDES terá papel importante de estruturador de projetos de privatização. Segundo Meirelles, o país pode retomar o crescimento em 2017.
– Há motivos suficientes para ser otimista. Todos querem transformar o Brasil numa economia desenvolvida – declarou.
*Estadão Conteúdo