Na avaliação de especialistas, o governo Dilma só conseguirá dar impulso a seu projeto de ajuste fiscal quando (e se) superar o risco de impeachment. A cientista política Céli Pinto avalia que a definição sobre a proposta de afastamento da presidente dividirá 2016 em duas partes.
- Teremos dois momentos este ano: antes e depois da resolução do impeachment. Não se pode pensar no futuro do governo antes disso. Até lá, acredito que nada muito radical será aprovado, seja o ajuste fiscal ou qualquer outro tema - analisa Céli.
Se Dilma se mantiver no cargo, como a professora da UFRGS considera mais provável, haveria outros dois cenários possíveis. Num deles, o governo sai desgastado demais do embate político e segue sem capacidade de aprovar medidas importantes. No outro, o Planalto consegue respirar e reorganizar sua base aliada - principalmente se esse momento coincidir com uma eventual saída do arqui-inimigo Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara em razão das suspeitas de corrupção. Céli aposta no segundo cenário.
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Conforme o professor da PUCRS Hermílio Santos, há boa chance de Dilma se manter no cargo. Mas o cientista político avalia que a discussão sobre o impeachment levará a um "desgaste avassalador". Isso deverá, segundo ele, limitar o alcance do ajuste fiscal e aumentar seu custo político:
- Não importa mais qual é a pauta. O governo precisa dar cada vez mais coisas, mais cargos, para aprovar projetos de seu interesse. Quanto mais impopular o governo, mais caro o PMDB cobra por seu apoio.
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Para o economista e professor da UFRGS e da Universidade de Cambridge Flavio Comim, os sucessivos terremotos políticos em Brasília frustrarão o ajuste fiscal e causarão um novo déficit em 2016.
- A instabilidade política deverá levar a uma conduta fiscal um pouco mais frouxa. Além disso, a pressão inflacionária e a necessidade de manutenção dos juros deixará muito difícil fecharmos o ano no azul - analisa Comim.
Nas últimas semanas, o próprio partido da presidente aumentou a pressão sobre o Planalto com o objetivo de frear o rigor do ajuste fiscal. O presidente do PT, Rui Falcão, assinou nota cobrando "ousadia" e uma nova política econômica em 2016 focada na retomada do crescimento. No texto, condena as "altas de juros e os cortes de investimento", e cita "frustração" com os atos do governo. O PT divulgou ainda uma carta com sugestões de medidas que incluem a volta da CPMF, mas também outras ações, como a taxação de grandes fortunas.