Ao contrário do que o Piratini esperava, mesmo com a chapa tão quente que ficou difícil suportar, a percepção da crise não facilitou o caminho para a elevação de impostos. Em qualquer conversa de esquina se fala em "Estado falido".
Piratini pagará na segunda-feira mais R$ 1 mil de salários atrasados
A consciência surgiu, mas não embutiu o engajamento para adotar soluções difíceis. Não há sinais de redução de resistência ao aumento do ICMS entre deputados e empresários - ao menos no discurso. Professores, brigadianos, servidores da saúde e cidadãos de várias latitudes estão exasperados por falta de salário, de respeito, de segurança.
Nesta semana, um dos líderes empresariais mais empenhados em barrar a proposta, o presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn, fez uma confissão desconcertante:
Referia-se à defesa, feita por ele e vários colegas empresários, para que o Piratini enfrentasse o que chamam de "corporações". Disse ter se surpreendido com a força da reação das categorias profissionais - e suas consequências. Bohn percorreu duas vezes os gabinetes da Assembleia. Relatou que já ouviu todos os argumentos a favor do tarifaço sem se convencer de que é incontornável.
Segue aferrado a uma pauta alternativa, que inclui venda ou extinção de 49 órgãos estaduais - Banrisul ficou fora da lista -, da dívida ativa e da folha de pagamento. São mecanismos complexos, que podem não resolver o problema imediato do caixa, mas sinalizariam para alguma mudança de fato, não apenas de conversa.
O empresário conta que teve de tomar, ele mesmo, a "decisão que mais dói": cortar parte dos 40 funcionários de sua empresa de contabilidade em decorrência das crises federal e estadual. E diz ter consciência de que o problema não é deste governo ou do anterior. A constatação de Bohn é um alerta para o Piratini.
As relações foram tensionadas até o limite do suportável. Se as correções do Planalto são urgentes, as do Rio Grande do Sul passaram do limite do prazo. Até agora, o que os gaúchos identificam, além da crise, é um apagão de estratégia.