Na particular agenda do Piratini, calhou de ser em setembro, mês em que se comemora aquela revolução que perdemos, o mês de mergulhar o funcionalismo público na realidade farrapa. No mês em que se celebram as "façanhas" e os "modelos a toda terra". Seria triste e decepcionante em qualquer calendário, mas causa especial angústia que seja agora.
Temos ouvido que o governador José Ivo Sartori hesita em enviar à Assembleia projeto ampliando o acesso aos depósitos judiciais por temer que, com a aparência de situação resolvida, o aumento proposto de ICMS enfrentaria ainda mais resistência. Temos ouvido, mas não deve ser certo.
É fato que o Piratini não pode ficar prisioneiro de poderosas corporações. É fato que as finanças do Estado nunca estiveram tão mal e precisam de uma solução estrutural. É fato que apelar aos depósitos judiciais endivida mais um Estado que passou da beira da falência. Mas nada justifica que não o faça, tendo a possibilidade de evitar o caos na vida de cerca de 300 mil servidores - o que se sabe é o número de matrículas, que podem ser se transmite em cadeia para uma economia já fragilizada.
Ainda mais que a decisão cria servidores públicos de duas castas. Os inabaláveis do Judiciário e do Ministério Público, onde residem os maiores salários, e os abalados servidores do Executivo, submetidos a uma dieta salarial insalubre. No sábado, circunspecto mas parecendo alheio à ansiedade dos servidores obrigados a passar o final de semana montando estratégias de sobrevivência, o governador quis separar sua representação na abertura Expointer, em momento de festa, da necessária prestação de contas de quem descumpre um compromisso básico.
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Se de fato é inevitável restringir a R$ 600 o pagamento dos servidores do Executivo, o mínimo a fazer é preparar os atingidos com toda a antecipação e explicação disponíveis. O Brasil está em recessão, o Rio Grande do Sul, ainda pior. Para ser livre, não basta ser forte, aguerrido e bravo.