São boas as perspectivas de alcançar uma solução para o novo polo naval do Estado, o de Jacuí, em Charqueadas, há meses envolvido em crise em decorrência dos problemas financeiros enfrentados por sua principal empresa -a Iesa. É esperado para os próximos dias o anúncio da entrada da Andrade Gutierrez (AG) na sociedade com a Iesa, proposta levada a frente pela Petrobras, aliás, a quem caberá fazer o anúncio em pouco tempo. A Iesa é dona de um contrato para fornecer 24 módulos à estatal.
A ideia é de que a AG fique com 75% do capital, cabendo o restante à Iesa, por pressão da Petrobras, interessada em reduzir a participação da companhia envolvida em problemas, o que determinou, inclusive, paralisação temporária de suas atividades. Grupo de técnicos do futuro sócio passou os últimos dias em Charqueadas analisando as operações e tomando pé da situação, além de ter ido a Marau, matriz da Metasa, que também tem unidade no município da região carbonífera.
O prefeito de Charqueadas, Davi Gilmar de Souza, foi informado de que a negociação "evoluiu bem". Otimista, o presidente da Iesa, Valdir Carneiro, disse a Davi que "flexibilizou o contrato até onde podia para sair o acordo" e prometeu visitar o município nos próximos dias.
O diretor da Iesa, Fleury Pissaia, espera novidades para breve. Embora ainda não confirme, deixou claro o interesse da AG de entrar na sociedade.
- Ainda é especulativo e muito prematuro. Estamos conversando, mas não há nada formalizado - disse, acrescentando que espera o término da negociação para entre 10 e 15 dias.
Apesar de as operações na Iesa terem sido retomadas, os funcionários não estão lá muito satisfeitos. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Charqueadas, Jorge Luis de Carvalho, afirma que algumas rescisões de funcionários demitidos não teriam sido pagas e que o sindicato começará a "pensar em alguma manifestação":
- A Iesa demitiu 10 trabalhadores como retaliação pela greve, o que, provavelmente, poderá originar outra.
A Andrade Gutierrez optou, como sempre, por "não comentar". A Petrobras também foi contatada, mas disse apenas estar apoiando a Iesa na busca de alternativas adequadas para manter o contrato.
Também há desilusão
Com dívidas vencidas desde novembro, após serviços executados de infraestrutura de informática e telecomunicações estimados em R$ 55 mil, a Latin Tec, que presta trabalho à Iesa vive uma situação difícil. O caso ilustra bem o momento dos fornecedores, hoje "desesperados", que sofrem com o atraso de pagamentos diante da crise da companhia.
- Estou desiludido com o polo naval como vetor de crescimento - diz o proprietário Glauco Nunes, que, apesar de contatos quase diários, não tem ideia de quando receberá pelo trabalho.
Nem a esperança da chamada conta vinculada, espécie de intervenção da Petrobras na área financeira da Iesa, a partir da qual os pagamentos são definidos em comum acordo, resolveu a situação da empresa, há mais de 10 anos no mercado. Nunes diz estar sendo "preterido a cada semana" pela estatal, que vem dando prioridade a fornecedores com impacto na produção e despesas com funcionários:
- Os fornecedores com serviços executados vão para o fim da fila, mas os bancos, como Banrisul e Badesul, dizem estar em dia - conta Nunes, preocupado com os compromissos a cumprir, inclusive os do sistema financeiro.