Em artigo para o Wall Street Journal, o ex-membro do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) Andrew Huszar, responsável por executar o programa de injeção de dinheiro na economia em 2009, pediu desculpas e disse que a medida nada mais é do que o maior resgate a Wall Street de todos os tempos. "Desculpe-me, Estados Unidos", ele diz, no início do texto.
Huszar trabalhou no Fed por sete anos antes de trocar o emprego no banco central americano por Wall Street. "Saí por frustração, após ver que a independência do Fed estava erodindo", afirma. Em 2009, ele foi chamado de volta para ajudar a gerenciar o programa de compra de títulos, que tinha como objetivo comprar US$ 1,25 trilhão em bônus hipotecários em 12 meses. Após alguma hesitação, ele aceitou.
"Trabalhamos incansavelmente para passar a impressão de que sabíamos o que estávamos fazendo. O banco central continua a falar do QE (quantitative easing, definição em inglês para a medida) como uma ferramenta para ajudar as famílias e empresas. Mas hoje reconheço o programa pelo que ele realmente é: o maior resgate a Wall Street de todos os tempos", diz o economista.
Segundo ele, apesar da retórica do Fed, o programa não estava tornando o crédito mais acessível para os americanos e os bancos concediam cada vez menos empréstimos. Huszar afirma que Wall Street embolsou todo o dinheiro extra do QE, beneficiando-se do custo menor para tomar empréstimos.
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Maior intervenção da história
A primeira rodada do programa terminou em março de 2010 e, para o ex-membro do Fed, os resultados confirmaram que, para as famílias, o efeito foi trivial. "Já Wall Street teve o ano mais lucrativo da história, em 2009", ressalta.
Alguns meses depois, após nova fraqueza do setor bancário, o Fed anunciou o QE2. "Foi aí que eu percebi que o Fed havia perdido a capacidade de pensar independentemente de Wall Street. Desmoralizado, voltei para o setor privado", diz Huszar.
No fim do texto, o economista avalia os resultados do QE atualmente, destacando que as compras de bônus ultrapassaram US$ 4 trilhões e que os bancos americanos viram os preços de suas ações triplicar desde março de 2009.
"Surpreendentemente, em uma nação supostamente de livre mercado, o QE se tornou a maior intervenção de um governo nos mercados financeiros da história."