Mulher de carpinteiro e mãe de dois filhos, Simone Cardoso dos Santos, 52 anos, encontrou uma fonte de renda na triagem do lixo seco há cerca de seis anos. Além de ratos e baratas, que se escondem em montanhas de plásticos, papéis, vidros e metais, e dos cachorros, galinhas e marrecos que vivem em meio aos 32 trabalhadores da Associação de Reciclagem Rubem Berta, o maior problema está dentro dos sacos do lixo.
- Uma colega nossa espetou o dedo em uma seringa na semana passada e teve de passar por uma bateria de exames - conta Simone, que todos os dias caminha quatro horas - duas para ir, duas para voltar - entre sua casa e a usina.
Além de expor as trabalhadoras a riscos - enquanto as mulheres põem a mão na massa, os homens se incumbem da tarefa de carregar os sacos e cestos de material já selecionado -, a inclusão de itens que não podem ser reciclados em meio ao material da coleta seletiva reduz a produção da unidade. Entre os materiais que não deveriam ser colocados no lixo seco mas aparecem com frequência estão fraldas e papel higiênico usados, restos de alimentos, sacolas com fezes de cachorro e até animais mortos.
Nas usinas, plásticos são maior fonte de ganhos
Por seis horas de trabalho diário, com direito a meia de intervalo, Simone recebe de R$ 350 a R$ 550, dependendo do mês. Às 15h58min, quando a sirene anuncia o fim da hora do lanche, feito em uma velha mesa de escritório, no meio da usina e envolto no odor característico, Simone e as colegas levantam e saem resmungando para o garimpo do lixo.
- Não temos vacina contra gripe, nem ganho fixo, nem vale-transporte. Esqueceram de nós - reclama a chefe de Simone, a coordenadora da unidade, Tânia Maria dos Santos Marchesan.
A unidade recebe R$ 2,5 mil como ajuda de custo da prefeitura. Só que gastos com água, telefone e principalmente com a energia que movimenta as prensas superam o valor oferecido pela prefeitura.
- Aqui a gente paga para trabalhar. E vive de centavos - diz Simone.
Diariamente, entre dois e 10 caminhões chegam à unidade do Rubem Berta. Como maior parte do alumínio fica pelo caminho, os maiores ganhos vêm de outros materiais.
- Muita gente cata latas na rua. Então, para nós, os mais valiosos são plásticos e sacos de lixo - diz Simone.
Bons exemplos pelo mundo
Exemplos de esforços para transformar o lixo em algo produtivo estão por todos os cantos do planeta. Em Oslo, na Noruega, a queima de lixo doméstico, industrial e hospitalar permite fornecer aquecimento para metade da cidade, incluindo todas as instituições de ensino.
Nos Estados Unidos, a cidade de Nova York tornou obrigatória a reciclagem de objetos de plástico rígido. Com a medida, a prefeitura pretende economizar anualmente US$ 600 mil, com a reciclagem de 50 mil toneladas adicionais de embalagens de xampu, brinquedos e cabides adicionais.
Assim como o poder público, empresas também lucram com o reaproveitamento de materiais. Anualmente, a General Motors fatura em termos globais cerca de US$ 1 bilhão com o reuso ou a reciclagem de itens que em outros tempos iriam parar no lixo.
No Rio Grande do Sul, a Oi e a Descarte Certo anunciaram em abril investimento de R$ 2 milhões em uma unidade de manufatura reversa - que começa com o resíduo para chegar ao produto. A empresa de reciclagem e gerenciamento de resíduos eletrônicos, estabelecida em Novo Hamburgo há cinco anos, terá sua capacidade ampliada em quatro vezes, atingindo 1,8 mil toneladas/ano.
O preço dos recicláveis (R$ por quilo)
Alumínio _ 2,10
PET branco _ 1,65
Garrafa água mineral 1 litro _ 1,30
PET verde _ 1,20
Plástico leitoso branco _ 1,10
Plástico leitoso colorido _ 0,75
Saco branco (filme) _ 0,70
Vidro de azeite _ 0,70
Papelão marrom _ 0,35
Saco de lixo colorido _ 0,20
Papel jornal _ 0,18
Longa vida _ 0,16
Latas (enlatados) _ 0,12
Vidros (garrafas inteiras) _ 0,10 a 0,20
Papel misto _ 0,09
Vidro (geral) _ 0,06
Vidro (cacos) _ 0,05