Leite que não poderia ser vendido chegou às canecas de 600 crianças e adolescentes nos abrigos da Fundação de Proteção Especial do Rio Grande do Sul (FPERGS), órgão do governo que tutela menores em situação de risco. Lotes com a data de fabricação de 6, 7, 12 e 17 de abril de 2013 de leite Latvida foram entregues nos 43 abrigos da fundação no início do mês e servidos até quarta-feira passada, quando estourou a operação Leite Compen$ado.
Embora os lotes enviados aos abrigos não estivessem entre os identificados como adulterados, com presença de ureia e formol, a venda e a fabricação pela VRS, dona da marca Latvida, haviam sido proibidas pela Secretaria da Agricultura a partir de 1º de abril, depois que foram detectados problemas na estrutura da indústria. Entretanto, no dia 22 de abril o Ministério Público e a Secretaria da Agricultura verificaram que a produção continuava, e na quinta-feira passada decidiram interditar a empresa.
A venda de leite para a fundação - órgão do mesmo Estado que proibiu a operação da VRS - contradiz o posicionamento da empresa de que a proibição estava sendo obedecida. Ontem, em entrevista a ZH, o porta-voz oficial da empresa, o assessor jurídico Rafael Godinho, havia afirmado que não havia ocorrido venda após a data da proibição, dizendo que a produção ficava estocada para realização de novos testes ou guardada até a empresa conseguir autorização para vender.
Leite era consumido há seis meses
As crianças na fundação consumiam leite Latvida há seis meses, quando licitação de entrega foi vencida por uma nova empresa de distribuição, que definia os fornecedores. Entre as marcas de leites entregues, também estava a Mu-mu, fabricada pela Vonpar, na qual foi encontrada a presença de formol em exames laboratoriais feitos pelo Ministério da Agricultura _ exame da Secretaria da Agricultura do Estado encontrou formol e ureia também na composição do Latvida.
De acordo com a presidente da fundação, Kelly Moraes, estão sendo tomadas as medidas cabíveis para averiguar a extensão do incidente, e a aquisição de novas embalagens de leite já foram solicitadas. A VRS informou, por sua assessoria de imprensa, que o leite em questão pode ter sido vendido após o dia 24 de abril, quando a empresa obteve um auto de liberação provisório. No entanto, há comprovantes de que o produto foi comprado nos dias 6 e 13 de abril. A companhia não comentou essa informação.