Um dos fatores do baixo crescimento do Brasil no ano passado foi a retração de 2,5% do PIB da indústria de transformação. Como o valor agregado gerado pelo setor manufatureiro responde por 14% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) nacional, se este indicador tivesse registrado estabilidade em 2012, o país poderia ter avançado 1,3%, estima o economista da consultoria MCM, Leandro Padulla. Apesar deste cenário, especialistas avaliam que as perspectivas para a indústria brasileira nos próximos cinco anos é positiva, em razão das medidas adotadas pelo governo para melhorar a competitividade e reduzir os custos deste segmento produtivo. Dentre as medidas, estão a desonerações da folha de pagamento das empresas,o aumento dos investimentos em infraestrutura, sobretudo por concessões ao setor privado, a queda das despesas com energia e o câmbio menos apreciado.
Para o economista-chefe da consultoria LCA, Braulio Borges, de 2013 a 2017 a média anual do crescimento do país deve atingir 3,9%, enquanto o produto da indústria de transformação deve ser levemente maior e alcançar 4%. Já Leandro Padulla acredita que a média de elevação do PIB do País será de 3,6% nos cinco anos, enquanto o PIB do setor manufatureiro deverá subir 3,5%.
Essas previsões apontam uma aproximação maior entre o desempenho da indústria e da economia brasileira do que o apurado em anos recentes. De 2010 a 2012, o Brasil avançou em média 3,7%, enquanto o PIB da indústria aumentou 2,6%. Entre 2004 a 2008, a distância entre os dois indicadores também foi considerável. O País cresceu em média 4,8% naqueles cinco anos, mas o PIB da indústria de transformação subiu 3,9%.
- A redução de custos e melhora da eficiência produtiva da indústria não ocorre de imediato, mas começará a dar resultados neste ano. O câmbio menos apreciado, ao redor de R$ 2,00, com queda das despesas de energia, que era uma das mais caras do mundo, e desoneração para mais de 40 segmentos empresariais, dão um fôlego ao caixa do setor manufatureiro e farão com que os investimentos retomem neste ano - disse o professor da Escola de Economia da FGV de São Paulo, Nelson Marconi.
Braulio Borges estima que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) deve subir 7,4% em 2013, o que compensará a retração de 4% apurada em 2012.
- Isto deve ocorrer em função de alguns elementos, como a expansão um pouco mais vigorosa das obras de infraestrutura, como rodovias, portos e aeroportos - comentou.
Para 2014, ele projeta que o Brasil deverá avançar 4%, com um desempenho ainda melhor do PIB da indústria de transformação, que deve subir 5%. Na sua avaliação, a FBCF no próximo ano manterá o ritmo de expansão e deve avançar 7,3%, o que levará ao aumento dos investimentos como participação do PIB de 19,8% em 2013 para 20,1% no ano que vem.
Os especialistas, no entanto, ponderam que o Brasil precisa de mudanças estruturais para garantir um crescimento ao redor de 4% nos próximos anos. Dentre elas, o aumento dos investimentos do setor público e a redução de despesas correntes, o que deve estimular as empresas privadas a apostar no crescimento da demanda agregada no longo prazo, aponta o professor da Escola de Pós Graduação de Economia da FGV, Fernando Holanda Barbosa. "O Estado tem um déficit nominal pouco superior a 2% do PIB ao ano. Se houvesse um equilíbrio no resultado das contas públicas, um montante muito grande de recursos poupados pelo governo poderia ser direcionado a projetos de infraestrutura e educação, que geram milhares de empregos diretos e ampliam a produtividade da economia", comentou.
A ampliação da abertura comercial também seria outro fator que colaboraria para modernizar o setor manufatureiro com o acesso a tecnologias de peças e máquinas que estão no mercado externo, apontam os especialistas.
- O Brasil é muito fechado em função de um protecionismo anacrônico à indústria. Isso só gera ineficiências, pois o processo de produção de um produto eletrônico ou até de um carro é feito em vários países - comentou a professora da PUC-RJ e diretora da Casa das Garças, Monica Baumgarten de Bolle.
Além de carga tributária menor, rodovias, ferrovias e portos que permitem o pleno tráfego de mercadorias pelo país e menor burocracia oficial, a professora da PUC-RJ destaca que a indústria no Brasil precisa se especializar em áreas que tem vantagens comparativas com outros países no mundo.
- Nós produzimos de sapatos a aviões. Precisamos ter uma especialização, sobretudo em produtos que geram grande valor agregado - comentou. A professora da PUC-RJ cita que uma boa aposta seria a indústria de alimentos, que tem grande potencial para avançar ainda mais, dado que o País é muito competitivo na atividade agrícola e de pecuária.
Para a acadêmica da Casa das Graças, também seria viável um incremento da indústria de etanol, que para ela foi "sucateada" nos últimos dez anos devido à política do governo de comprimir os preços internos de combustíveis a fim de conter a alta da inflação.
- Com isso, o Brasil perdeu a vanguarda da produção de etanol e do desenvolvimento de peças e carros que atuam com esse combustível. Nós já poderíamos estar muito avançados e numa condição de plena exportação dessa tecnologia para o mundo. E agora já temos a forte concorrência dos EUA, que começaram a realizar pesquisas nessa área bem mais tarde", destacou.