A história mostra que muitas empresas de sucesso na área de tecnologia, como as gigantes Apple e Microsoft, começaram a operar em garagens. No caso do grupo gaúcho Digicon, que completou 35 anos no ano passado, também houve improvisação. Em 1977, o canadense Joseph Elbling, casado com uma brasileira, vislumbrou uma oportunidade de negócios no Rio Grande do Sul e abriu a Digicon no Distrito Industrial de Gravataí, na Região Metropolitana, atraído pelo acesso facilitado pela freeway. O primeiro cliente, a Taurus Wotan, localizada ao lado, emprestou alguns vestiários e banheiros para a empresa iniciante.
Focada em produtos para máquinas usadas em fábricas, a Digicon foi obrigada a buscar alternativas nos anos 1980, quando a economia mundial foi atingida pela crise do petróleo.
- A diversificação foi o caminho, porque não podíamos investir apenas em um mercado - conta Peter, um dos filhos de Joseph e um dos diretores do grupo, ao lado do irmão Thomas.
Um dos primeiros engenheiros da Digicon foi José Luis Korman, boliviano que, na década de 1970, ganhou bolsa para cursar engenharia eletrônica em Porto Alegre. A partir de uma palestra feita por Joseph na universidade, Korman soube da busca da empresa por profissionais e decidiu procurar trabalho na companhia recém-criada. A trajetória no grupo fez com que Korman se tornasse o atual diretor financeiro.
Com a criação da segunda empresa, a Perto, em 1988, o grupo Digicon intensificou o desenvolvimento de produtos próprios, mirando na inovação. Atualmente, o portfólio abrange cerca de 50 itens, destinados basicamente aos segmentos de automação bancária (ATMs, terminais de autoatendimento) e comercial, controle de acesso (catracas eletrônicas), mobilidade (semáforos, bilhetagem eletrônica e estacionamentos rotativos). Além disso, o grupo projeta e desenvolve soluções em equipamentos, software e serviços, como os de monitoramento e assistência técnica aos clientes.
Uma das curiosidades do grupo está no mais recente segmento de atuação. Nos anos 1980, a empresa desenvolveu peças para dois satélites brasileiros. A qualificação permitiu que a Digicon ingressasse de vez no setor de aeronáutica, com a produção de peças de controle de cabines de aeronaves.
Com quase 2 mil funcionários, o grupo busca ter gestão financeira extremamente conservadora. No ano passado, o faturamento foi de
R$ 288 milhões, e só a receita da Digicon atingiu
R$ 69 milhões, alta de 22% sobre 2011.
- Somos basicamente desenvolvedores e fabricantes de produtos. Muitos foram criados para complementar os serviços - conta Korman.
Com vendas a quase todos os Estados brasileiros, o grupo Digicon também tem foco nas exportações, que correspondem a cerca de 10% do faturamento. Inaugurou um centro de distribuição na Alemanha em 2011, com alcance até o Leste Europeu, e na Índia, onde a Perto abriu um escritório em Mumbai, em outubro de 2012. Um dos destaques no mercado indiano é o caixa eletrônico duplo que permite operações simultâneas.
Para este ano, a meta é ampliar as operações na unidade de Gravataí. Há cerca de um ano, o grupo deu início à ampliação da fábrica de caixas eletrônicos da Perto, investimento de R$ 38 milhões. Do total, R$ 26 milhões serão destinados para a compra de equipamentos de altíssima precisão com foco na automação dos processos. E R$ 12 milhões serão destinados à ampliação da área construída, que passará de 33 mil para 41 mil m2. A nova fábrica ampliará a capacidade de produção da Perto de 800 para 1,4 mil caixas eletrônicos ao mês.
- Enxergamos boas perspectivas, mas estamos atentos ao desempenho da economia mundial e das contas públicas brasileiras - ressalta Elbling.
Perfil
- Faturamento em 2012:
Grupo Digicon: R$ 288 milhões
Digicon: R$ 69 milhões
Perto: R$ 219 milhões
- Funcionários: 1,9 mil
- Fundação: 1977
- Principais clientes: Cielo, Bradesco, Banrisul, BRB, Banco do Brasil, EPTC, Metrô Rio, SPTrans (bilhete único SP)
- Principais destinos de exportação: Índia, EUA, Espanha, Equador, Venezuela, Uruguai, México, Itália, Polônia, Romênia, República Checa, Rússia, Hungria e Emirados Árabes
Principais produtos:
- ATMs (terminais de autoatendimento bancário e de serviços)
- POS (máquinas de cartão)
- Automação para varejo
- Soluções para controle de acesso (catracas, controle de acesso biométrico, REP - Registrador Eletrônico de Ponto)
- Componentes aeronáuticos
- Soluções para mobilidade urbana (controladores de semáforos, parquímetros, sistemas de bilhetagem e controladores de tráfego)