As medidas de estímulo ao consumo anunciadas pelo governo federal para enfrentar a crise internacional serão insuficientes para retomar o boom econômico e impulsionar a indústria nacional, advertem especialistas, segundo os quais o maior problema do país é a baixa competitividade. Sexta maior economia do mundo, o Brasil não atingirá o crescimento de 4,5% previsto anteriormente pelo governo para este ano, admitiu na segunda-feira o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que nesta terça-feira apresentou documento com nova estimativa oficial de 4%.
- As perspectivas para este ano estão sendo reduzidas - disse o economista Juan Jensen, da consultoria Tendências. - A economia continua em trajetória de crescimento, mas de crescimento fraco, e o principal sinal disso é a desaceleração da indústria.
A Tendências reduziu de 3,2% para 2,5% sua estimativa de expansão da atividade econômica para 2012. O mercado rebaixou também, de acordo com dados divulgados na segunda-feira, a estimativa de crescimento de 3,20% a 3,09% para este ano, segundo o relatório semanal do Banco Central.
- A indústria tem custos mais altos e não há produtividade para compensar esse aumento - explicou Jensen.
Ao mesmo tempo, o governo mantém a estratégia de cortar juros e pressionar os bancos privados para que também os reduzam, em uma tentativa de estimular o consumo. Com esse objetivo, o Banco Central cortou, desde agosto, a taxa básica de juro de 12,5% para 9%, e acredita-se que continuará baixando.
Especialistas alertam sobre a aversão ao risco gerada pelos mercados emergentes e sobre a queda da demanda chinesa por matérias-primas, além de uma desvalorização do real, que poderá pressionar a inflação, que foi de 6,5% em 2011.
- Caso o Brasil não tenha um crescimento forte, nem continue contando com a ajuda dos preços das matérias-primas, o país passa a não ser mais tão atrativo para os investidores estrangeiros - disse Jensen.
Para Zeina Latif, doutora em Economia pela Universidade de São Paulo, o consumo está focando em importações e não por mais produção e, por isso, as recentes medidas oficiais não serão suficientes.
- É preciso lidar com problemas estruturais, como custos do transporte, energia e mão de obra - afirmou. - A fragilidade da indústria pode acabar contaminando outros setores.