Com homenagens aos produtores, expectativa por anúncios e o tradicional desfile dos animais campeões, a 47ª edição da Expointer foi oficialmente aberta nesta sexta-feira (30), em Esteio. Apresentações de música e discursos fortes fizeram da pista central do parque Assis Brasil um grande palco para a consagração do espírito de retomada da atividade agropecuária gaúcha após a enchente.
O alento aos produtores foi sinalizado pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, após avançarem as negociações em relação ao alongamento dos financiamentos aos agricultores afetados pela cheia. Conforme adiantou a colunista Gisele Loeblein, produtores, cooperativas, cerealistas e fornecedores de insumos poderão acessar os R$ 15 bilhões em recursos do fundo social anunciado anteriormente pelo governo.
De acordo com Fávaro, o conjunto de ações prevê negociação de dívidas com juro menor, em torno de 7% ao ano dependendo do enquadramento do agricultor. O prazo de renegociação dos produtores diretos e das cooperativas será de oito anos. Para as cerealistas, será de cinco anos. Ambas as situações prevendo prazos de carência.
As medidas serão detalhadas após alinhamentos com as entidades e o sistema financeiro. Conforme o ministro da reconstrução Paulo Pimenta, a expectativa é de que na próxima segunda-feira (2) as determinações estejam valendo.
Um projeto de lei nacional protocolado na noite de quinta-feira (29) aprovou a negativação dos produtores. Isso permitirá o acesso às linhas de crédito. Ainda será encaminhada uma regulamentação da Medida Provisória para aperfeiçoar a liberação de créditos pelos bancos, de acordo com o ministro da Agricultura.
— Posso garantir a vocês que não será o esperado, não será o sonho de todos os produtores, mas certamente serão medidas que permitirão a reconstrução com dignidade de todos os produtores. O trabalho continua — disse Fávaro.
Encorpando o coro ministerial na cerimônia, Paulo Teixeira, titular do Desenvolvimento Agrário, citou as medidas já anunciadas pelo governo para recuperação do Estado, entre elas as de reconstrução dos assentamentos.
— Foram tomadas a suspensão do pagamento de créditos, o perdão de dívidas de crédito subsidiado, e agora virá a recomposição dos recursos das cooperativas, dos grandes fornecedores de insumos e de grãos. E um programa para limpar o nome de todos que trabalham no campo — disse Teixeira.
Uma briga de touros na pista, enquanto o ministro Teixeira falava, combinou com o tom “tenso” de cobranças durante a feira. O duelo de pesos pesados tinha entre eles o touro Hudson, o animal mais pesado a pisar na Expointer este ano.
"Já temos um passo"
A avaliação é de que se chegou mais perto do que era solicitado pelo setor, diz Gedeão Pereira, presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). A tratativas iniciaram pedindo 15 anos de prorrogação para as dívidas. Depois, foram ajustadas para 10, até chegarem aos prazos sinalizados.
— Para quem não tinha nada, com oito anos já temos um passo. Agora temos de ver os mecanismos como vão se ajustar — disse Gedeão.
Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), aproveitou o púlpito para reforçar as demandas dos agricultores. Joel disse que a medida sinalizada é vista como avanço, mas que os anúncios precisam chegar na ponta, sem diferenciação para pequeno ou grande produtor. O presidente pediu que as diferenças políticas não atrapalhem as negociações e que os agentes bancários “também façam a sua parte”.
— Esses agricultores não estão pedindo, eles têm direito de exigir do país ajuda para se manterem produzindo. Avançamos na negociação, mas as medidas têm de chegar ao produtor e precisam atender a necessidade de todos — disse Joel.
O alongamento das dívidas vinha sendo cobrado por entidades do setor agropecuário, unificadas no Movimento SOS Agro. Produtores ligados ao movimento acompanharam a cerimônia com camisetas identificadas do grupo. Uma bandeira do SOS Agro foi estendida nos guindastes do parque.
A presença dos movimentos foi destacada pelo governador Eduardo Leite:
— Aqui não há qualquer bandeira de partido político, camiseta exaltando qualquer personalidade política, não há sequer vaias, nem gritos de fora esse ou fora aquele. Há simplesmente a angústia expressa por aqueles que trabalham e que empreendem no campo e que estão sofrendo. Esse clamor não é de hostilidade a ninguém, é a favor de todos. A favor do Rio Grande, do agronegócio e produção.
Marcas da resistência
Símbolo da resiliência dos gaúchos durante a enchente, o Cavalo Caramelo abriu os desfiles da cerimônia. O animal percorreu todo o espaço da pista sob aplausos calorosos da plateia.
Secretário da agricultura do Estado, Clair Kuhn enalteceu o trabalho das entidades copromotoras para deixar a feira em pé. O próprio parque Assis Brasil ficou 20 dias submerso durante a enchente.
— Aqui o RS mostra a sua força, a sua coragem e a sua capacidade de se reerguer — disse Kuhn.
Vilson Covatti, secretário do Desenvolvimento Rural, destacou a presença dos produtores da agricultura familiar. Muitos perderam familiares e produção, e mesmo assim marcaram presença da feira.