Tomar um empréstimo consignado para pagar o rotativo do cartão significa substituir uma dívida com juro de 303,4% por outra de 20% ao ano, considerando-se as taxas médias do relatório do Banco Central de junho. Apesar de o cartão ainda ser o meio de crédito mais usado no país, outras opções vêm ganhando espaço. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o consignado foi o tipo de dívida das famílias brasileiras que mais aumentou de janeiro e junho: 55,16%. Giane Guerra reforça que é preciso avaliar os riscos antes de pedir empréstimo para familiares — confira mais análises da colunista de GaúchaZH ao final deste texto.
Um dos motivos da crescente procura pode ser a redução ou corte do salário, avalia Wendy Haddad Carraro, professora de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Somente em maio, 9,7 milhões de brasileiros estavam afastados do trabalho sem remuneração, segundo a Pnad Covid19, do IBGE.
— As pessoas contavam com seus salários integrais para o pagamento de contas e despesas domésticas. Com a redução, a alternativa foi recorrer ao consignado, que tem taxas de juros pequenas, já que as parcelas são descontadas em folha de pagamento, aposentadoria ou pensão — explica a coordenadora do programa Educação Financeira para Todos e para Toda Vida.
Em caso de demissão, até 30% das verbas rescisórias líquidas (aviso-prévio, saldo de salário, férias vencidas e saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS) recebidas pelo devedor podem ser diretamente descontadas para o pagamento do empréstimo, desde que isso esteja no contrato entre a empresa empregadora e a instituição financeira. Nos contratos firmados a partir de 2016, o empregado demitido pode oferecer de garantia até 10% do saldo do FGTS e até 100% da multa rescisória para abater a dívida.
Risco de a taxa mudar
— Após uma demissão, o que era consignado vira empréstimo pessoal comum. Por isso, é preciso tratar diretamente com a instituição financeira, que pode querer aumentar o juro, já que não tem mais a folha de pagamento como garantia. Se isso ocorrer, negocie para manter a taxa original — orienta Wendy.
Para o economista e educador financeiro Leandro Rodrigues, tomar crédito deve ser evitado ao máximo. Mas o consignado pode ser uma saída em caso de uma perda da renda familiar que comprometa o pagamento de contas e dívidas em dia. Antes de qualquer coisa, deve-se comparar, de um lado, o juro por atraso e, de outro, o do empréstimo. Ademais, afirma Rodrigues, algumas instituições estão concedendo descontos para quem continua pagando as contas em dia:
— Tome a decisão sempre verificando seu orçamento na ponta do lápis, não com a aquela “contabilidade mental”. A primeira coisa é saber quanto tem à disposição por mês para saldar a prestação, porque não adianta ter um empréstimo de juro baixo se não tem condições de pagar. O empréstimo vai apenas amortecer os efeitos de um problema, e não a causa.
Na hora de decidir
- Use simuladores de empréstimo para comparar ofertas, como O Melhor Trato, Compara e Compara Bem
- Não aceite contrato com venda casada, isto é, aquele que exige a compra de outro produto, como seguro ou título de capitalização, para conceder o empréstimo.
- Antes de assinar, leia se no contrato constam exatamente os valores que foram ofertados, como total financiado, taxa mensal e anual de juro, acréscimo remuneratório, moratório e tributário, valor e periodicidade das prestações.
- Desconfie se alguém solicitar um depósito antecipado. O pagamento das prestações só deve começar após você receber o empréstimo.
- Em caso de descumprimento do contrato, registre uma reclamação junto ao Procon.
* Fontes: Wendy Haddad Carraro, coordenadora do programa Educação Financeira para Todos e Para Toda Vida da UFRGS, e cartilha Empréstimo Consignado do Banco Central
Uma das maiores preocupações no consignado é quando alguém toma o empréstimo para o dinheiro ser usado por outras pessoas. Isso acontece com uma grande frequência na própria família, como o caso de netos ou filhos que pegam o dinheiro no nome dos avós ou pais. Sabemos que, em vários casos, o compromisso de honrar o pagamento não é o mesmo. Com isso, compromete a remuneração mensal da pessoa, negativa o nome e as relações familiares ficam abaladas. Não digo que não se deve fazê-lo, mas pondere os riscos e tente conduzir a situação da forma mais clara e objetiva que puder.