O novo corte na taxa básica de juro determinado pelo Banco Central (BC) na última quarta-feira passada (30) trouxe preocupação para quem dinheiro guardado. As aplicações mais comuns dos brasileiros, como a Caderneta de Poupança, Fundos de Renda Fixa e Certificados de Depósito Bancário (CDBs), passaram a render menos e correm sério risco de perder para a inflação.
O juro básico da economia (Selic) caiu de 5,5% para 5% ao ano, o que puxa para baixo os ganhos das aplicações, já que este indicador é a principal referência para os investimentos mais populares, aqueles sob o guarda-chuva da chamada renda fixa.
A poupança, por exemplo, inflará apenas cerca de 3,4% ao ano com a nova Selic. Os Fundos DI — oferecidos massivamente pelos bancos — ganharão cerca de 3,3%, após desconto de taxas de administração e Imposto de Renda (IR). Considerando uma inflação oficial (IPCA) de 3,29% projetada para 2019, conforme o Boletim Focus do BC, na prática, os ganhos serão engolidos pela variação de preços.
— A renda fixa já vem há algum tempo com seu ganho comprometido. Este novo corte na Selic piorou a situação — resume Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, especializado em treinamento de agentes do mercado financeiro.
É um cenário bem diferente do que havia há apenas três anos. Em outubro de 2016, quando o BC iniciou a sequência de cortes, a Selic estava em 14,25%. Ou seja, não era difícil encontrar aplicações que rendessem acima de 10% ao ano, ganhando com sobras da inflação. Desde então, o juro básico perdeu 10 pontos percentuais e economistas calculam que poderá encerrar 2019 ainda mais baixo, em 4,5%.
— O brasileiro tinha a percepção que qualquer investimento de renda fixa ia dar um retorno grande. Essa festa acabou — afirma Alexandre Amorim, planejador financeiro e gestor da empresa de investimentos Par Mais.
Novos horizontes
Se a nova Selic coloca em xeque as aplicações mais conhecidas, também abre os olhos da população para opções menos exploradas. Os títulos de Tesouro Direto, por exemplo, têm modalidades que garantem rendimento acima do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou que remuneram a totalidade da Selic. Em bancos menores ou corretoras, o investidor pode obter CDBs que pagam acima de 100% de Selic — descontando o IR, o ganho real pode chegar a 5% ao ano.
Economistas, entretanto, avaliam que o brasileiro interessado em ter ganhos expressivos nas suas aplicações cada vez menos têm opções fora da Bolsa de Valores, replicando um modelo comum em economias maduras, como os Estados Unidos. E isso significa aprender a conviver com certo risco.
— Hoje você tem de escolher: se quer estabilidade, vai ter de abrir mão de rentabilidade. Se quer rentabilidade, terá de abrir mão de estabilidade — condiciona Amorim.
Quais investimentos podem valer a pena com a nova taxa básica
Tesouro IPCA
São títulos públicos que pagam um juro igual à inflação oficial e mais um bônus, o que garante que a aplicação esteja protegida da alta de preços. Por outro lado, exigem um período mínimo de resgate para pagarem esta taxa adicional, acima de cinco anos.
Letras ou CDB de bancos menores
Como os bancos pequenos têm dificuldade em atrair investidores, aceitam pagar um juro maior nos CDBs ou nas Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA). E o pequeno investidor não precisa ter medo de perder seu dinheiro, já que está protegido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até R$ 250 mil.
Para ter mais tranquilidade ao escolher um banco desconhecido, o investidor pode consultar neste link do Banco Central a relação completa de instituições financeira autorizadas a funcionar no país.
Fundos de ações
São fundos que reúnem ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e podem oferecer um ganho bem superior à Selic. Até quinta-feira (31), a valorização acumulada do Ibovespa, principal índice da Bolsa, era de 22% em 2019. Por outro lado, há possibilidade de que o fundo se desvalorize, o que requer uma tolerância do investidor ao risco.
Quais investimentos perdem força com a Selic em baixa
Caderneta de Poupança
A taxa de juro igual ou abaixo de 8,5% ao ano aciona um dispositivo que limita o rendimento da poupança a 70% da taxa mais Taxa Referencial (que tem sido zero). Com isso, a caderneta rende menos do que o juro básico e muitas vezes perde até para a inflação.
Fundos de Renda Fixa
As aplicações acompanham o juro básico, mas há desconto de taxa de administração (que costuma girar em 1% do total investido) e Imposto de Renda. Com isso, o ganho líquido pode ser até menor do que a poupança.
CDBs de grandes bancos
Estes papéis pagam um determinado percentual da Selic e nos grandes bancos costumam ficar abaixo de 90% da taxa. Portanto, um juro baixo demais espreme o rendimento, com o agravante de haver desconto de IR.
Fontes: Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, Alexandre Amorim, planejador financeiro e gestor da empresa de investimentos Par Mais, e Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac).