Deu um pulo no supermercado para comprar pão e acabou fazendo um rancho. Passou no shopping para trocar uma roupa e comprou uma TV em uma promoção imperdível. Assim, sem pensar muito, você chega em casa e se dá conta de que talvez tenha cometido um erro.
Os produtos do mercado se acumulam na despensa. A TV nova não melhorou a qualidade dos momentos de lazer. Em compensação, o lapso consumista será lamentado a cada uma das próximas faturas do cartão de crédito.
Não se sinta só: as compras por impulso são um mal compartilhado por mais da metade da população e há até um campo da economia dedicado a compreender por que agimos assim.
— Na economia comportamental, estudamos que há algumas propensões de comportamento. Temos alguns desvios, e um é muito ligado a esse viés compulsivo: somos muito menos racionais do que gostaríamos de acreditar — afirma Flávia Ávila, coordenadora do curso EAD Economia Comportamental, da ESPM.
Segundo a economista comportamental, as emoções, o ambiente e as pessoas a nossa volta exercem forte influência sobre nós. Diante de uma promoção, somos cativados pelo benefício imediato e não cogitamos que, no futuro, aquela compra possa se revelar um erro.
— A impulsividade está ligada a atalhos mentais. Estamos sempre tentando economizar a energia que gastamos pensando, porque tomamos milhares de decisões por dia e, se fôssemos parar para pesar todas as circunstâncias, ficaríamos congelados — explica Flávia.
Em vez de congelados, muitos caem nos caminhos da impulsividade, comprometendo o orçamento com coisas de que sequer precisam. Segundo o SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), a maior parte das compras não planejadas é com supermercado (17%), perfumes e cosméticos (14%) e bares e restaurantes (13%). Se divididas por gênero, peças de vestuário e acessórios lideram entre as mulheres (23%), e produtos eletrônicos são destaque entre os homens (13%).
— Essas compras podem desbalancear o planejamento, vai-se gastando um pouquinho aqui, outro ali. Chamamos de gastos invisíveis, a pessoa só vê o estrago no fim do mês — diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.
Veja como segurar a onda na hora das compras
1 - Atenção com a "oportunidade imperdível"
Liquidações ou ambientes com muitas promoções requerem cuidado redobrado, pois nos cercam de alertas – “só hoje!”, “pague 1, leve 2” – que acionam nosso receio de deixar passar uma oportunidade.
— Esses anúncios incentivam um fator muito forte no ser humano, cognitiva e emocionalmente, que é a aversão à perda. Se você não fizer essa compra agora, você vai perder, é uma oportunidade única — explica a economista comportamental e professora da ESPM Flávia Ávila.
É importante estar ciente desses recursos — os estabelecimentos comerciais sabem usá-los muito bem.
2 - Não se deixe levar pelas atitudes dos outros
Como animais sociais, é natural que sejamos influenciados pelas pessoas a nossa volta. Daí que ambientes de compras também acabam nos instigando porque todos ao nosso redor estão consumindo.
— Quando não sabemos como agir, olhamos como as outras pessoas estão agindo e pensamos que elas já pesaram bem os custos e benefícios. Nós, humanos, tendemos a fazer esses atalhos mentais — afirma Flávia.
3 - Tenha metas financeiras
Segundo Leandro Rodrigues, da Dsop Educação Financeira, ter metas e objetivos financeiros bem estabelecidos é uma forma de prevenir gastos impulsivos.
— Se sou um apaixonado por sapatos, mas sonho com uma viagem que custa R$ 1 mil, passo na frente de uma loja de sapatos, vejo um par em promoção, de R$ 500 por R$ 300, e penso: gastar no sapato vai me afastar ou aproximar do objetivo? Assim, acabo blindando o cérebro de compras impulsivas. A falta de objetivos gera ansiedade — pondera Rodrigues.
4 - Pare e reflita
O psicólogo israelense Daniel Kahneman, Nobel de Economia e expoente da área de finanças comportamentais, tem uma teoria que divide a mente humana em dois componentes chamados “sistema 1” e “sistema 2”.
— O sistema 1 é mais emocional, instintivo, de momento. E o sistema 2 é aquele usado quando você para alguns segundos para pensar um pouco mais — explica a economista Flávia Ávila.
Para o bem do seu bolso, na hora das compras, dê tempo para que o sistema 2 entre em ação.
5 - Permita-se alguns agrados
Mesmo com uma rotina de autocontrole, é importante se permitir alguns agrados — afinal, você trabalhou por seu salário e tem direito de desfrutá-lo.
— Se a pessoa se restringe demais, depois acaba fazendo uma compra supergrande. É importante estipular um limite para gastar naquele mês com algo de que você goste, uma roupa, um sapato, um eletrônico — sugere Flávia.
6 - Aprenda com seus erros
— Parece clichê, mas a ideia do autoconhecimento sobre seus padrões de comportamento é fundamental. Você tem de analisar como agiu em compras passadas e ter uma visão mais falível sua — aconselha Flávia.
Ciente dos seus pontos fracos, você pode se proteger e evitar situações que despertem seu ímpeto consumista.