Quando o preço da gasolina vai às alturas, o abastecimento com etanol (álcool) volta a ser cogitado como opção de economia. Mas essa tentativa de driblar os reajustes pode ser um tiro pela culatra. Isso porque, apesar de ter um preço médio menor do que os praticados na venda do litro da gasolina, o álcool também está caro — ao menos no Rio Grande do Sul.
Segundo pesquisa realizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entre 13 e 19 de maio, a média do preço da gasolina nos postos de Porto Alegre chegou a R$ 4,476, enquanto a média do etanol ficou em R$ 3,950.
Para avaliar se vale mais a pena abastecer com etanol ou gasolina, uma conta simples pode ajudar a decidir. Pegue o valor do litro do etanol e divida pelo preço do litro da gasolina. Se o resultado for maior do que 0,7, sai mais em conta abastecer com gasolina e, se for menor, o etanol tem vantagem (ou acesse a calculadora acima, informando os valores dos dois combustíveis na sua cidade). Considerando a média dos valores desses combustíveis na pesquisa da ANP para a Capital, não seria negócio para os porto-alegrenses optar pelo etanol, já que o resultado da conta daria 0,88.
Mesmo para os consumidores de Bagé, na Região da Campanha, onde as médias de preço dos dois combustíveis é a mais alta registrada no Estado pela pesquisa da ANP — o litro da gasolina no município sai, em média, R$ 4,90 e o do etanol, R$ 4,63 — a matemática sai a favor do abastecimento com gasolina.
Presidente do Sulpetro, sindicato dos postos de combustíveis do Rio Grande do Sul, João Carlos Dal'Aqua explica que a vantagem do etanol sobre a gasolina é uma realidade de Estados produtores de álcool, como São Paulo e Paraná, onde a diferença de preço entre os dois produtos é maior. Em Maringá (PR), onde o custo médio do litro da gasolina foi o mais alto na pesquisa da ANP no Estado paranaense (R$ 4,56), o etanol custa, em média, R$ 2,97. Na conta simples, o resultado seria 0,6, confirmando a vantagem do etanol.
— Aqui no Rio Grande do Sul, dificilmente teremos o etanol com condições de competitividade em relação à gasolina. É que temos de considerar que, via de regra, o consumo de álcool pelo veículo é 30% maior do que com a gasolina, por uma questão de queima diferente. Hoje, quem acaba abastecendo com álcool são aquelas pessoas que alugam um carro e precisam entregá-lo com o taque cheio. Aí, optam pelo (combustível) mais barato — diz.
Sindicato critica política de preços da Petrobras
O sindicato tem criticado a política de preços da Petrobras e, nesta terça-feira, emitiu nota sobre os últimos reajustes. Segundo a entidade, o aumento nos preços tem reduzido drasticamente a margem de lucro e comprometido negócios.
— O consumidor é penalizado, mas esta política está demolindo com a revenda. Só quem ganha são os governos e os operadores de cartão de crédito — lamenta Dal'Aqua.
Confira, na íntegra, a nota do Sulpetro
"O Sulpetro — sindicato que representa os postos de combustíveis do Rio Grande do Sul — vem a público manifestar o seu total descontentamento com a atual política de preços da Petrobras, desde que passou a fazer reajustes diários nos custos dos combustíveis. A sistemática, adotada em julho de 2017, está penalizando nocivamente os empresários varejistas de combustíveis e, por consequência, o consumidor.
Em um mercado extremamente complexo e com tantas distorções - com impostos que representam quase 50% do preço da gasolina, a uniformização das alíquotas de ICMS é uma das principais alternativas para reverter este quadro. Enquanto o imposto no Rio Grande do Sul é de 30%, o estado vizinho de Santa Catarina recolhe 25% sobre o litro do combustível, o mesmo que em São Paulo. Bem diferente do cenário do Rio de Janeiro, onde a alíquota é de 34%, a maior do País.
No início de 2016, as margens de lucro da gasolina para os segmentos da revenda e distribuição de combustíveis, além do frete, alcançavam 17,8%. Em abril deste ano, a margem caiu para 14,8%, conforme dados da Plural - Associação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência. E é com esta reduzida margem que os postos têm que pagar funcionários, custos com encargos sociais, aluguéis, energia elétrica, taxas para operadoras de cartões de crédito, entre tantos outros itens que demandam um estabelecimento comercial.
Enquanto a gasolina acumula alta de 42,25% entre 1° de julho de 2017 e 15 de maio de 2018, a partir dessa nova política de preços da Petrobras, o varejo vem espremendo, cada vez mais, suas margens e enfrentando a repulsa da população que culpa, de forma errada, quem está na ponta de toda a cadeia de combustíveis: os postos.
Os caminhoneiros também não suportam mais constantes elevações no preço do diesel. Na semana passada, foram cinco reajustes diários seguidos. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, do Gás Natural e dos Biocombustíveis (ANP), o preço médio do diesel nas bombas já acumula alta de 8% no ano. O valor está acima da inflação acumulada no ano, de 0,92%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O momento está muito difícil para o varejo de combustíveis, onde postos estão quebrando ou assumindo dívidas para tentar sobreviver e evitar demissões. No Rio Grande do Sul, são 2.800 estabelecimentos, que respondem por 22% da receita de ICMS aos cofres gaúchos. Mas o Sulpetro sempre apoiará as iniciativas que valorizarem a lisura de nossa atividade e, acima de tudo, defendam o respeito ao consumidor."