A baixa quantidade de chuva que atinge o Rio Grande do Sul há alguns meses já começa a se tornar sinal de alerta para municípios gaúchos. Em um mês, 73 prefeituras decretaram situação de emergência por conta da estiagem. A contabilização, feita pela Defesa Civil do RS, traz documentos desde o dia 27 de outubro.
Somente nesta semana, foram sete: São Nicolau, Guarani das Missões, Senador Salgado Filho, São Valentim, Dezesseis de Novembro, São Gabriel e Viadutos. Outras cinco cidades incluíram dados no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres e devem emitir os decretos nos próximos dias. A lista está disponível no site da Defesa Civil.
Tenente Portela, no Noroeste, foi a primeira da lista a decretar situação de emergência — a mesma atitude já havia sido tomada em março deste ano. Na cidade, a Corsan leva caminhões-pipa com água potável para moradores da área urbana, e a prefeitura enche as caixas d'água de 270 famílias que vivem no interior, com média de 30 mil litros por dia.
Além disso, produtores rurais enfrentam problemas para dar água aos animais. Por isso, o Executivo está usando retroescavadeiras para abrir bebedouros nas propriedades.
— Estamos abrindo na perspectiva de uma chuva ou vertente que possa encher e manter a água para os animais. A demanda é grande, mas estamos fazendo um esforço duplo — reforça o prefeito Clairton Carboni.
Mais de 70% da produção de milho foi perdida, e há dificuldade para conseguir pastagem para o gado leiteiro. Ainda não se sabe qual será o impacto sobre a soja, carro-chefe do município:
— É a situação mais dramática, porque a água sumiu. Os agricultores tinham água, suas vertentes, seus poços, e a água sumiu. Os riachos estão secando, os poços estão diminuindo a vazão. E a perspectiva é muito ruim. Até abril, vamos sofrer com essa escassez — lamenta Carboni.
Além de Tenente Portela, a Corsan usa caminhões-pipa para abastecer reservatórios e levar água potável a moradores de outras duas cidades: São Valentim e Barão de Cotegipe, no Norte. São transportados, em média, 700 metros cúbicos por dia, já que, segundo a companhia, os rios e poços que atendem essas comunidades secaram. Conforme a Corsan, não há racionamento. A empresa informou também que "está providenciando novas perfurações de poços e estudos para buscar água em outros mananciais".
Medidas preventivas
Prevendo a estiagem severa, a Defesa Civil do Estado se antecipou e buscou agilizar o processo de análise dos decretos de emergência. O site foi remodelado, e as equipes, reforçadas. Todo o processo está sendo feito de forma online, pela rapidez e pela segurança em meio à pandemia.
Os 24 reservatórios de água móveis já estão emprestados, e o órgão planeja, se necessário, adquirir mais equipamentos.
— Estamos fazendo o processo para, se necessário, adquirir caixas d'água e reservatórios móveis, porque, neste ano e no próximo, a estiagem vai castigar. Estamos nos preparando, principalmente, para os danos humanos, porque certamente teremos danos econômicos — diz o coordenador da Defesa Civil, coronel Julio Cesar Rocha Lopes.
Treze cidades já tiveram os decretos homologados pelo governo do Estado, e outras cinco tiveram os documentos reconhecidos pela União: Caiçara, Frederico Westphalen, Seberi, Tenente Portela e Vista Alegre. Com o reconhecimento, o governo federal poderá encaminhar recursos aos municípios.
Baixo nível nos rios
Quinze bacias hidrográficas do Estado estão em condição de alerta devido à baixa disponibilidade hídrica, ou seja, baixo nível dos rios. São elas: Santa Maria, Negro, Ibicuí, Butuí-Icamaquã, Piratinim, Ijuí, Turvo-Santa Rosa-Santo Cristo, Passo Fundo, Várzea, Vacacaí-Vacacaí Mirim, Pardo, Sinos, Caí, Gravataí e Rio Uruguai.
A análise é feita pela Sala de Situação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema). A previsão é de que a situação siga crítica, mesmo com a chuva prevista para os próximos dias.