Sem trazer grandes anúncios ao setor produtivo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, não se esquivou das cobranças feitas pelos produtores rurais durante a 42ª edição da Expointer, em Esteio. Com o gabinete transferido para o parque Assis Brasil, a ministra mostrou-se aberta a diferentes atividades agropecuárias — em uma tentativa também de aproximar-se da agricultura familiar.
A principal expectativa era sobre a securitização (renegociação de dívidas) aos arrozeiros por 15 anos. Produtores pedem o alongamento do prazo para pagamento de passivo calculado em aproximadamente R$ 6 bilhões.
— O produtor estava esperando algum anúncio para decidir a área a ser plantada. A safra começa nas próximas semanas e muitos nem compraram sementes ainda. Grande parte dos arrozeiros não tem crédito oficial pelo alto endividamento — disse Cristiano Vargas Cabrera, diretor da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) na Campanha, uma das principais regiões produtoras do grão, ao lado da fronteira.
A resposta da ministra ao pedido dos arrozeiros veio de forma direta na reunião da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), após almoço na Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul). Enquanto explicava que o governo vem se esforçando para socorrer o setor, com a recente prorrogação de parcelas de custeio e investimento, um produtor na plateia gritou:
— E a securitização? Foi uma promessa de campanha do presidente!
A ministra respondeu:
— Sim, foi uma promessa de campanha, mas que precisa seguir regras do sistema financeiro. E hoje não temos de onde tirar o recurso. Não podemos fazer securitização para um só setor. Não adianta eu vir aqui e enganar vocês.
Como caminho viável para apoiar os arrozeiros a curto prazo, a ministra indicou linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que poderão ter juro reduzido e serem acessadas para pagamento de dívidas com bancos e fornecedores. As alternativas de crédito foram criadas na comissão especial do endividamento agropecuário da Câmara, presidida pelo deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).
— Sabemos que essa não é a solução esperada pelo produtor, mas é o que temos de mais concreto neste momento, às vésperas do plantio da safra – avaliou o parlamentar.
Abertura
Ainda no parque, a ministra participou da inauguração do Pavilhão da Agricultura Familiar, onde concedeu entrevista a jornalistas e comentou sobre retaliações ao Brasil em razão dos incêndios na Amazônia.
— Se ficarmos aumentando o tom da conversa teremos mais prejuízos. O Brasil não é esse país que está sendo mostrado lá fora. Nós temos mazelas, sim, mas estamos corrigindo, estamos indo para ação. O governo federal mandou as tropas do Exército, as Forças Armadas para coibir o ilegal e o ilícito na Amazônia — disse Tereza.
A ministra chegou a Esteio nesta quinta, pouco antes do meio-dia, quando reuniu-se com o governador Eduardo Leite, na Casa Branca, sede do Executivo no parque. No meio da agenda, encontrou brecha para receber o embaixador em exercício dos Estados Unidos no Brasil, William Popp, e fazer videoconferência com o Ministério da Agricultura do Estados Unidos. Na pauta, uma possível prorrogação da taxa zero para importação de etanol americano ao Nordeste.
Nesta sexta (30), durante a manhã, a ministra participará do desfile dos grandes campeões da Expointer. Após passear pela feira, está previsto na agenda visita à fábrica da AGCO, em Canoas, dona das marcas de máquinas agrícolas Massey Ferguson e Valtra. Logo após, voltará a Brasília.