Apesar de ter recuperado parte da área perdida, somando pouco mais de 730 mil hectares, a atual safra de milho é uma das menores da história em extensão. A falta de estímulo, acentuada nos últimos anos, é atribuída ao menor retorno financeiro na comparação com a soja.
— Para ter mais segurança, o produtor acaba optando por uma commodity com preço internacional e custo de implantação menor — confirma Ricardo Meneghetti, presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho-RS).
O aumento ou a redução da área de milho é uma decisão de mercado, uma opção do produtor, avalia Carlos Cogo, diretor da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio. Na opinião do especialista, enquanto o Brasil tiver deficiência logística, há apenas um caminho a ser buscado.
— Se tivermos alta produtividade não precisaremos aumentar a área atual de milho. O problema é que a média gaúcha é muito baixa, basta compará-la com os principais produtores brasileiros — afirma Cogo.
Se tivermos alta produtividade não precisaremos aumentar a área atual de milho. O problema é que a média gaúcha é muito baixa, basta compará-la com os principais produtores brasileiros.
Enquanto o Rio Grande do Sul colheu 6,6 mil quilos por hectare na primeira safra do ano passado, o Paraná chegou a quase 9 mil quilos por hectare e o Mato Grosso do Sul a 9,1 mil por hectare.
— Se o Estado chegasse a esses rendimentos médios, facilmente alcançados em áreas irrigadas, seria autossuficiente mesmo com a extensão atual — exemplifica Cogo.
Entre as explicações para as diferenças de produtividade entre os Estados, enumera o consultor, está a desuniformidade entre as propriedades. Algumas colhem muito e, outras, pouco. Além disso, há um baixo percentual de lavouras irrigadas no Rio Grande do Sul, onde as adversidades climáticas são constantes.
“Se tivesse de escolher, optaria pelo milho”
Na Fazenda AJ Moreno, em Santo Ângelo, nas Missões, o modelo americano de dividir 50% da área para a soja e 50% para o milho é seguido quase à risca pelo produtor Rafael Moreno, 46 anos. Dos 450 hectares cultivados na safra de verão, 230 são destinados à oleaginosa e 220 ao cereal. E, se uma cultura não dependesse da outra para alcançar alto rendimento, não pensaria duas vezes se tivesse de escolher.
— Hoje, minha maior renda vem do milho, sem sombra de dúvida — revela Moreno.
A explicação vem do rendimento alcançado nas lavouras do cereal, por meio de agricultura de precisão e irrigação. Quase 90% do cultivo de milho está coberto com pivôs centrais. Nessas áreas, o produtor bateu recorde de produtividade na colheita encerrada há poucos dias: média de 14,4 mil quilos por hectare. No sequeiro, o resultado também é histórico para a propriedade: 12 mil quilos por hectare.
— A irrigação dá a garantia de colheita, o que nos permite fazer contratos futuros com tranquilidade — conta o produtor, que está com 70% da safra colhida comercializada, em média por R$ 35 a saca.
E o milho também garante resultados melhores para a soja. Com a palhada do cereal deixada no solo, o produtor consegue aumentar o rendimento em até 10 sacas por hectare. Além disso, Moreno aproveita o sistema de irrigação do milho para a safrinha da oleaginosa, semeada em janeiro, logo após a colheita do cereal.
— A safrinha de soja acaba sendo um complemento de renda à produção. É ela que ajuda a tornar viável o investimento no milho — explica o agricultor.
A propriedade de Moreno foi escolhida para sediar a 8ª abertura oficial da colheita no Estado, no último dia 25, justamente por comprovar que é possível tornar a cultura rentável.
— E é isso que queremos enfatizar aos produtores de uma maneira geral, que é possível cultivar milho com rendimento, e lucro — resume Ricardo Meneghetti, presidente da Apromilho-RS.