A Secretaria da Agricultura entrega nesta terça-feira (8) ao Ministério Público, em reunião às 16h, cópia de todas as análises laboratoriais feitas em amostras colhidas em vegetações como videiras, oliveiras, macieiras e cinamomos para identificar a presença de resquícios do agrotóxico 2,4-D aplicado nas lavouras de soja. A informação foi confirmada pela pasta da Agricultura.
No total, a promotora Anelise Grehs, do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais (Nucam), receberá o resultado de 79 análises científicas, das quais 69 apontaram positivo para a contaminação pelo herbicida. Nos outros dez casos, o registro de laboratório foi "não detectável", que significa nem positivo nem negativo. As coletas foram feitas em 58 propriedades de 23 municípios gaúchos, sobretudo da Campanha. A absoluta maioria dos positivos está concentrado na área rural, mas um caso foi confirmado após análise de laboratório na zona urbana de Santana do Livramento, certificando que a deriva do químico se espalhou até à frente de um hospital da cidade fronteiriça.
Os laudos serão repassado ao MP por dois diretores de divisão da Agricultura: Fabíola Boscaini Lopes, da Inspeção de Produtos de Origem Vegetal, e Rafael Friedrich de Lima, de Insumos e Serviços Agropecuários. Eles também irão anexar aos documentos outros relatórios produzidos por fiscais agropecuários que foram a campo, onde constarão dados mais específicos sobre os locais de coleta e sobre as características visuais dos vegetais analisados.
O 2,4-D é um herbicida usado antes do plantio da soja para eliminar da terra a erva-daninha conhecida como buva. Devido à má aplicação, o químico sofre um processo de deriva, se espalhando pelo ar para plantações vizinhas e até mesmo para zonas urbanas. O agrotóxico atua no sistema hormonal das plantas, fazendo com que não se desenvolva, apresentando aspecto retorcido, morrendo ao final. Ao avançar sobre propriedades de cultivo de videiras e oliveiras, a deriva do 2,4-D causou perdas milionárias nas safras. Na campanha, a quebra da safra foi, em média, de 40% nas videiras, destinadas a produção de vinhos finos. Nas oliveiras, base da fabricação de azeite de oliva, as perdas causadas pelo 2,4-D ficaram entre 30% e 40%.
O MP tem inquérito aberto desde 2015 para analisar os efeitos do herbicida em outras culturas. Até o momento, a promotora Anelise trabalha com as hipóteses de requerer judicialmente a suspensão da aplicação deste agrotóxico, a criação de zonas de exclusão em que ele não poderia ser empregado ou a costura de um acordo com produtores de soja para que um químico menos danoso seja utilizado como substituto.
A promotora promete um encaminhamento após ter prazo para analisar os documentos entregues pela Agricultura.