Estimativas divulgadas pela Câmara Setorial da Apicultura da Secretaria Estadual da Agricultura revelam um dado alarmante e que precisa ser enfrentado de forma urgente: cerca de 400 milhões de abelhas, pertencentes a 5 mil colmeias, morreram de dezembro até agora no Rio Grande do Sul. A suspeita é que as mortes tenham sido causadas pela aplicação incorreta de um inseticida nas lavouras de soja. Além dos agrotóxicos, o crescimento de monoculturas, desmatamento e desequilíbrio ecológico estão entre os principais causadores de mortandade.
Relatos como esse são cada vez mais comuns e deverão se agravar se nenhuma medida for adotada. Artigo publicado recentemente na revista internacional Apidologie identifica 250 espécies de animais polinizadores em 75 culturas agrícolas do Brasil. Desse total, 87% são abelhas. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), um terço da produção mundial de alimentos depende da polinização, o equivalente a 70% das culturas agrícolas e 85% das plantas com flores das matas e florestas.
Mas tudo isso está em risco. Estudos científicos alertam que, se nada for feito, as abelhas serão extintas até o ano de 2035. O tema preocupa médicos veterinários e zootecnistas, que têm dado contribuições importantes para a preservação da apicultura, seja na implantação dos apiários, nos cuidados durante as etapas de produção, sanidade, melhoramento genético e na nutrição das abelhas.
Políticas públicas voltadas à preservação ambiental, com medidas duras contra o desmatamento, auxílio aos agricultores para que tenham alternativas à monocultura e leis e fiscalização rígidas que garantam o uso correto de defensivos agrícolas nas lavouras são urgentes.
A comunidade acadêmica também auxilia de forma fundamental com pesquisas na área. No entanto, esse trabalho conjunto depende do envolvimento de muitos agentes e de medidas concretas para que tenha avanços sólidos.
As faculdades de Medicina Veterinária e Zootecnia podem aprofundar o conhecimento dos futuros profissionais sobre o tema, com disciplinas específicas. É necessário apoio para pesquisas sobre o uso de agrotóxicos e, sobretudo, de legislações eficazes contra o uso daqueles que não são autorizados no Brasil ou que são pirateados. Políticas voltadas à preservação, com medidas duras contra o desmatamento, auxílio aos agricultores para que tenham alternativas à monocultura e leis e fiscalização rígidas que garantam o uso correto de defensivos agrícolas nas lavouras são urgentes. Ou unimos forças agora para resolver a questão, ou corremos o risco de comprometer a produção de alimentos em um futuro próximo.
Lisandra Dornelles é presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS)