Embalados pelo resultado da colheita de grãos no país e melhora na cotação das commodities, os produtores que precisam garantir máquinas no campo na próxima safra de verão aproveitaram os descontos no preço e nas taxas dos bancos durante a 25ª Agrishow, encerrada na sexta-feira, em Ribeirão Preto (SP). A possibilidade de redução do juro no próximo plano safra, que poderia impactar os negócios, ficou em segundo plano. A feira teve resultado recorde de intenções de negócios, com R$ 2,7 bilhões, alta de 22% sobre a edição de 2017, que fechou em R$ 2,2 bilhões.
E as fabricantes não pouparam argumentos para convencer os compradores. No segundo semestre, alegam risco de os produtos aumentarem de preço em razão da desvalorização do real frente ao dólar e do equipamento não chegar a tempo da safra – o que anularia o juro menor.
Com o desconto de 3% da comissão por parte dos bancos na feira, dependendo do percentual de redução da taxa de crédito o produtor poderá ter perda se esperar para comprar, explica Pedro Estevão de Oliveira, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). A taxa do Moderfrota varia de 7,5% a 10,5% ao ano, conforme o faturamento da propriedade.
– O produtor corre um risco grande ao trocar o certo pelo incerto – argumenta Oliveira.
A opinião é compartilhada por Francisco Matturro, presidente da Agrishow, considerada uma das mais importantes feiras de agronegócio do Brasil.
– Os preços estão atrativos e os bancos reduziram taxas. Mesmo que venha um juro menor, não compensa. E quem garante que teremos taxa de juros pré-fixada? – questiona Matturro, ao falar sobre a possibilidade de o governo adotar a pós-fixada.
A safra cheia de grãos no país, estimada em 229,5 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e o aumento dos preços da soja e outras commodities ajudaram a capitalizar o produtor.
– Em fevereiro, a seca na Argentina elevou o preço da soja e do milho, e agora tivemos a desvalorização do real. O dólar, que estava em R$ 3,25, bateu em R$ 3,50, o que aumenta a rentabilidade – argumenta Oliveira.
Ao mesmo tempo, o fator dólar pode aumentar os preços das máquinas e equipamentos nos próximos meses. Isso porque a presença dos importados varia de produto a produto, mas sempre há componentes de fora. Nas máquinas maiores, a participação fica em torno de 30%.
– A taxa de câmbio vai impactar o custo das indústrias, e é razoável repor essa diferença – avalia Oliveira.
Com poder de compra
A evolução tecnológica das máquinas, com soluções que permitem cada vez mais eficiência nas aplicações e redução de perdas, seduzem o produtor.
– Precisamos de tecnologia de ponta, porque a agricultura é muito volátil. Um bom equipamento otimiza a produção.
A maior produtividade acaba diminuindo custo e, na feira, os planos para aquisição de equipamentos são diferenciados – afirma a produtora Sílvia Suzuki Nishikawa, que planta batata, alho, cenoura, soja, milho, café e abacate em 2 mil hectares cultivados em São Gotardo (MG).
Com poder de compra garantido pela atual safra e crédito pré-aprovado, Sílvia já chegou à mostra com a decisão de fechar negócio para equipar a fazenda que administra com um novo trator e uma plataforma de colheita de cereais.
Um pouco mais cauteloso na hora de investir, o produtor Herminio Mitihiro Samoto, de Passos (MG), foi à Agrishow conferir colheitadeiras que oferecessem redução de perdas, melhor rendimento e baixo custo de manutenção. Pretende voltar para casa, analisar criteriosamente as características de cada equipamento e fabricante, para só então decidir qual levará para a propriedade de 700 hectares, onde planta milho, soja e feijão.
Estratégias para conquistar o produtor
Fabricantes e bancos ofereceram condições especiais para conquistar o produtor na Agrishow. E, com o cenário positivo no campo, a estimativa de crescimento entre 5% e 8% foi batido com folga.
É o caso do Grupo AGCO, dono das marcas Massey Ferguson, Valtra e GSI, que elevou a previsão de negócios para 10% durante a feira.
– O momento é positivo. A produção agrícola e a renda são boas, então é uma oportunidade comprar agora – diz Werner Santos, vice-presidente de vendas e marketing da AGCO América Latina.
Vantagens comerciais, preços e ofertas foram as armas do banco CNH, das marcas Case, New Holland e FPT. Segundo o diretor comercial, de marketing e de seguros do banco CNH Industrial, Marcio Contreras, a estratégia é a adoção de soluções customizadas para ganhar o produtor.
Atraído pela proposta comercial de uma fabricante, Nivaldo Fulanetti, a mulher, Luciana Zanin, e o filho Augusto, de São Félix do Xingu, no Pará, efetivaram a compra de um trator no primeiro dia da feira. Mas a aquisição foi planejada: o produtor acompanhou por meses o preço do equipamento.
Com 4 mil hectares em três propriedades no Pará, em Goiás e em São Paulo, Nivaldo tem necessidade imediata do trator para começar o preparo da terra para plantar cana e pastagem para o gado.
– Se esperasse o plano safra, passaria da hora – conta Nivaldo.
Instituições como o Banco do Brasil (BB), Sicredi e Santander disponibilizaram isenção da taxa de comissão e crédito pré-aprovado, com ações pré-feira.
Além disso, o BB, responsável por cerca de 60% do crédito agrícola no país, flexibilizou garantias, e, segundo Antônio Banhara, gerente executivo de agronegócios, agilizou a liberação do crédito, por atuar na Agrishow com recursos próprios. Antes do fechamento, a instituição já tinha superado R$ 1 bilhão em propostas.
O Santander, levou R$ 1 bilhão em crédito pré-aprovado Esse esforço pré-feira faz parte da meta de ampliar de 5% para 10% a participação da instituição financeira no crédito agrícola do país.
– O produtor busca melhorar a produtividade, enquanto nós oferecemos produtos customizáveis – detalhou Paulo Bertolane, superintendente-executivo de Agronegócios do Santander.
A regional de Sicredi do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro triplicou os recursos na mostra, chegando a R$ 100 milhões. Adilson de Sá, diretor de desenvolvimento da regional, diz que a feira reflete o bom momento do setor, após anos de baixo investimento.
O público da Agrishow 2018 chegou a 159 mil pessoas nos cinco dias de evento. Compradores e produtores rurais de pequeno, médio e grande portes do Brasil e do exterior foram conferir as mais de 800 marcas expositoras nacionais e internacionais.
Argumentos das indústrias
– Agronegócio brasileiro mostra-se positivo mesmo com as turbulências políticas
– Melhora do Produto Interno Bruto (PIB) do país
– Inflação abaixo da meta
– Aumento da confiança e da renda dos produtores
– Câmbio e cotações favoráveis à agricultura
– Clima favorável, com exceção do sul do Rio Grande do Sul
– Taxa Selic em baixo patamar histórico
– Possibilidade de queda de juro para financiamento
A jornalista viajou a convite de um pool de empresas do setor