A proximidade do final de mais um ano agrícola e pecuário é sempre um momento de insegurança para o setor de máquinas agrícolas. Afinal, as regras do jogo para o próximo período ainda não estão definidas, e para o que está vigente, existem poucos recursos disponíveis. Algumas linhas, inclusive, estão totalmente esgotadas e isto influencia diretamente no impulso de compra do agricultor que, sem saber os rumos que a economia vai tomar, age com prudência na escolha da máquina, do tipo de financiamento, do agente financiador e, principalmente, do momento de comprometer sua capacidade aquisitiva.
Bem, nada disso é novidade no cenário da produção agrícola do país pois, a cada ano, especialmente nesta época, se repetem as inseguranças e, salvo os agricultores mais arrojados, a tomada de decisão para o financiamento ou não de uma máquina pode ser uma caixinha de surpresas. Essa situação coloca a indústria também em um momento de impasse sobre os investimentos a serem feitos na fabricação das máquinas. O fato é que, somado a isto tudo, estamos num começo de ano ainda mais peculiar, diante de uma verdadeira anomalia no cenário econômico, afinal, há pelo menos cinco anos, não se via a taxa Selic menor que os juros estabelecidos para as operações de financiamento para máquinas, implementos e equipamentos agrícolas. Observe, em julho de 2016, a Selic estava na casa dos 14,25% e os juros do Moderfrota para o médio produtor eram de 7,5% e para o grande, em 9% ao ano.
De lá para cá a Selic vem caindo, mas os juros praticados permanecem tal como o definido quando os planos foram lançados, o que não é de todo mal, afinal, o que a indústria quer são regras claras mesmo. Mas, entendendo que a Selic é um parâmetro para todas as outras taxas praticadas no mercado, e que a tendência é de que ela seja a menor taxa de juros da nossa economia, ficamos meio sem norte diante do que está posto hoje, afinal, em fevereiro a taxa chegou a 6,75% enquanto os juros do Moderfrota para o médio e grande produtor, respectivamente, estão em 7,75% e 10,5%. E é neste ponto que nós, do Simers, nos sentimos na obrigação de levar ao poder público o pleito de ajuste desta situação.
Foi o que fizemos no dia 22 de fevereiro, em visita aos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria de Governo, Carlos Marun, quando oficiamos o referido pleito. A bola agora está com o governo e nós não vamos descansar até que se estabeleça o equilíbrio necessário para que a indústria retome o crescimento.
Ainda temos um caminho muito longo a andar em direção à retomada do crescimento do setor. De modo otimista, podemos olhar os números e observar que no mês de fevereiro a produção de máquinas agrícolas aumentou em quase 50% em relação a janeiro. Entretanto, se observamos os últimos 12 meses, vemos uma variação de -10%. Os esforços para a recuperação continuam e, certamente, vamos superar a crise com muito trabalho e aposta na capacidade produtiva de nossa indústria, afinal, “não tá morto que peleia”.
Claudio Bier é presidente do Sindicato da Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers)