Vinho é praticamente um sinônimo para serra gaúcha. Afinal, a região produz 85% de toda a bebida à base de uva no Brasil. Dentro dessa localidade, entretanto, existem várias Serras, com características distintas na produção de vinhos e espumantes. Essas diferenças ficam evidenciadas por meio das chamadas Indicações Geográficas (IGs), certificações que denotam a origem de fabricação de um determinado produto. No âmbito vitivinícola, o Rio Grande do Sul detém cinco das seis indicações brasileiras. E são todas serranas.
As IGs são reconhecidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e se dividem em dois tipos: Denominação de Origem (DO) e Indicação de Procedência (IP). A busca por essas certificações é recente no país. Começou a ganhar corpo no final dos anos 1990 e está em plena expansão. Entre as vinícolas gaúchas, os selos de procedência vêm sendo utilizados para consolidar a marca das bebidas, tornando-as conhecidas dentro e fora do Brasil, e para alavancar negócios.
O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho Jorge Tonietto lembra que, na Europa, as indicações viraram uma espécie de atestado de qualidade, como nos casos dos vinhos do Porto, em Portugal, ou das regiões francesas de Bordeaux e Champagne. O desafio brasileiro é trilhar caminho parecido.
– O trabalho que o Brasil está fazendo se assemelha ao padrão europeu. Estamos caminhando para criarmos condições de sensibilizar o mercado. O consumidor vai saber que o produto tem um cartão de apresentação, que tem compromisso com determinados critérios – afirma Tonietto.
Especialista em zoneamento vitivinícola e indicações geográficas, Tonietto é um dos pesquisadores que lidera o processo de estruturação das IGs brasileiras. A definição de uma IG tem relação com aspectos como clima, solo, altitude e, claro, o produto resultante dessas peculiaridades.
Vale dos Vinhedos é pioneiro
O Vale dos Vinhedos foi o precursor na busca de reconhecimento no INPI. No início dos anos 2000, conseguiu a primeira Indicação de Procedência do país. O passo maior, porém, foi dado em 2012, quando a região que compreende os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul ganhou uma Denominação de Origem. Até hoje é a única DO outorgada para vinhos no país.
A conquista estabeleceu um antes e um depois para o vale. O número de visitantes cresceu 65%, indo de 248 mil a 410 mil, entre 2012 e 2016. O preço da terra, dependendo da localização, subiu entre 200% e 500%. Um hectare pode custar, atualmente, até R$ 500 mil.
– A denominação de origem trouxe uma evolução no conceito do Vale dos Vinhedos. Quando se tem um produto sem indicação geográfica, ele fica solto na multidão, acaba sendo mais um mais no mercado – compara Jaime Milan, consultor técnico da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
Para um vinho receber o selo de procedência na garrafa não basta ter sido feito naquele local. Há critérios específicos de análise definidos pelas associações de cada região.
– Existe um comitê de qualidade que vê se os requisitos foram cumpridos. São feitas degustações e também análise físico-química para decidir se o produto levará o selo – explica José Virgilio Venturini, presidente da Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes (Apromontes).
Entre as IGs gaúchas, Altos Montes é a única que ainda não tem produtos no mercado. Isso porque houve um problema no design do selo de procedência, que está sendo refeito. A expectativa é de que, em 2018, 700 mil garrafas feitas na localidade exponham a indicação nos rótulos.