O contínuo desenvolvimento do setor agrícola envolve uma equação de muita complexidade abrangendo aspectos econômicos, sociais e ambientais. Por um lado, existe uma crescente demanda pela produção de mais alimentos, fibras e energia para atender ao aumento da população. Por outro, o mercado consumidor cada vez mais exigente quanto à sustentabilidade ambiental.
Felizmente, o Brasil, além de possuir solo e clima propícios para a agricultura, também é fértil na produção de tecnologias agrícolas inovadoras e conta com a competência dos seus agricultores. Essas condições têm levado o país a estabelecer novos sistemas de produção intensificados e sustentáveis. Uma dessas tecnologias são os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
Podemos entender o ILPF como uma estratégia de uso da terra (espacial e temporal) mais sustentável que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais na mesma área. Este uso pode ser consorciado, em sucessão ou rotação e objetiva gerar ganhos econômicos e ambientais complementares na propriedade rural. Ou seja, utilizam-se recursos naturais (solo, água e biodiversidade) com maior eficiência na produção de grãos, carnes, leite, fibras, madeira e energia.
Além disso, pode-se observar a geração de serviços ecossistêmicos como fixação de carbono, maior infiltração de água e manutenção da fertilidade do solo. Além do ILPF, estes sistemas podem ser conduzidos em distintas modalidades de integração: ILP (lavoura-pecuária), ILF (lavoura-floresta) e IPF (pecuária-floresta).
Pesquisa recente encomendada pela “Rede de Fomento de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta” entrevistou quase 8 mil produtores rurais de todas as regiões do país. Os resultados mostram que o Brasil possui 11,5 milhões de hectares com alguma modalidade de ILPF. Os estados com maior adoção são Mato Grosso do Sul (2 milhões de hectares), Mato Grosso (1,5 milhão de hectares); Rio Grande do Sul (1,4 milhão de hectares), Minas Gerais (1 milhão de hectares) e Santa Catarina (680 mil hectares).
A grande maioria dos produtores rurais entrevistados (83%) adota a modalidade lavoura-pecuária. Dentre os principais motivos destaca-se a redução do impacto ambiental, a recuperação de pastagens degradadas, a rotação de culturas, a maior rentabilidade e o menor risco financeiro da atividade rural.Mesmo considerando o grande avanço, ainda temos o desafio de aprofundar pesquisas e ampliar o uso de ILPF em todo o Brasil.
Esta alternativa pode ser adotada por pequenos, médios e grandes produtores rurais e não falta estímulo: a rede bancária disponibiliza crédito específico para os produtores que queiram implantar ILPF, em suas diferentes modalidades, via o Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono).A integração lavoura-pecuária-floresta se consolida como alternativa de intensificação do uso da terra e aumenta ainda mais a qualidade e a sustentabilidade da agricultura brasileira.
Dr. Édson Bolfe é pesquisador, coordenador do Sistema Agropensa / SIM-Embrapa
Contato: edson.bolfe@embrapa.br
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