No ciclo em que o feijão ocupou a menor área plantada no Rio Grande do Sul, a redução na colheita só não foi maior porque a produtividade foi uma das melhores da história. A safra de verão apresentou resultado médio de 1.560 quilos por hectare. Já a safrinha, 90% colhida, teve rendimento um pouco mais baixo, o que é comum - deverá ficar em 1.300 quilos por hectare. A causa principal foi a chuva em excesso durante a germinação da planta, entre fevereiro e março.
A extensão plantada foi de 41,8 mil hectares na primeira safra e de 19,9 mil hectares no segundo ciclo, totalizando 61,7 mil hectares. É a menor área registrada pela Emater-RS, desde o início da série histórica, em 1970.
– A cultura vem perdendo área, mas essa redução ocorre na safra (primeiro ciclo). A safrinha tem permanecido no mesmo patamar – explica Dulphe Pinheiro Machado Neto, gerente técnico da Emater-RS.
Preço compensatório
Há um aparente paradoxo ao observar a menor área e os preços pagos ao produtor. Quem analisa somente o aspecto preço – a saca de 60 quilos é comercializada a R$ 160 – pode pensar que plantar o legume é o melhor negócio do mundo. Com um custo que não chega a R$ 2 mil por hectare, o produtor recebe, em média, o dobro deste valor. Apesar de o preço atual ser compensatório para o agricultor, a instabilidade de mercado é histórica, com volumes significativos de importação, a ponto de refletir na redução do valor do grão.
– Nos últimos dois anos não compramos de outros países, mas é comum importarmos da Argentina, Bolívia e até Myanmar – diz Machado Neto.
Diversificação de sabores
O feijão não divide-se somente em função de suas cores: preto, vermelho, branco. Apenas na Embrapa Clima Temperado, em Pelotas, são em torno de 700 tipos catalogados, sendo a maior parte crioula. Achou muito? Na unidade Arroz e Feijão, em Goiás, são mais de 15 mil.
Mais do que diferentes na aparência, têm sabor variado. Um dos feijões com gosto mais marcante é o macanudo - BR IPAGRO 1, lançado pela Embrapa em 1989. Segundo o pesquisador Irajá Ferreira Antunes, "o melhor feijão preto na panela".
– Feijões especiais abrem espaço para diferentes culinárias – diz Antunes, informando que a variedade deverá ser relançada para atender a um consumidor mais ligado à gastronomia.
Além do Macanudo, a empresa colocou no mercado cultivares como Pampa, Minuano, Macotaço, Guapo Brilhante e Expedito. Este último, lançado em 2003, é um grão preto, com boa produtividade e resistência a doenças, além de alto valor nutricional (rico em proteínas, cálcio, zinco, potássio e magnésio) e de fácil cozimento. Considerado naturalmente rico em nutrientes, o expedito faz parte de um programa em nível mundial da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), de alimentos biofortificados naturalmente, o Biofort, que visa diminuir a desnutrição e garantir maior segurança alimentar.
Novidades para os próximos anos
Em fase de multiplicação de sementes, a Embrapa Clima Temperado deve colocar no mercado entre 2017 e 2018 as cultivares BRS Paisano e BRS Intrépido. As variedades foram selecionadas a partir de variedades crioulas.
Irajá Ferreira Antunes, pesquisador da Embrapa, detalha que o paisano tem características do feijão preto comum e apresentou resultados positivos na produção orgânica. Já o Intrépido tem um sabor diferenciado e possui arquitetura de planta que facilita a colheita mecanizada, com bom rendimento na lavoura.
Também em fase de multiplicação de sementes está o feijão transgênico da Embrapa Arroz e Feijão. Em 2015, a variedade foi registrada no Ministério da Agricultura. O feijão RMD (Resistente ao Mosaico Dourado), do tipo carioca, vem sendo desenvolvido há mais de 15 anos. A cultivar promete o controle da praga do feijoeiro por meio do uso da cultivar resistente.