Em seu primeiro livro, a sexóloga e ginecologista de Porto Alegre Cristina Grecco pega emprestado do psiquiatra Carl Jung o conceito de arquétipo para detalhar perfis de comportamento do desejo sexual feminino. A teoria desenvolvida pela médica está compilada no recém-lançado Os 6 Arquétipos do Desejo Sexual Feminino, disponível em e-book na Amazon desde 31 de julho e aparecendo entre os mais vendidos na categoria medicina.
A leitura convida mulheres de todas as idades a compreenderem mais a fundo o funcionamento da libido e incentiva uma busca por autoconhecimento, prazer e protagonismo não só na hora da intimidade, mas em outras esferas da vida. Cada padrão de comportamento descrito por Cristina vem acompanhado de uma série de sugestões de estratégias para melhorar os momentos de intimidade.
Uma dicas, por exemplo, é não contar apenas com o desejo espontâneo — aquele tesão intenso, que surge do nada, mas quem tem um prazo de validade curto dentro de um relacionamento. O mais garantido, no entendimento da sexóloga, é criar um repertório erótico do qual a mulher possa usufruir como estímulo em qualquer momento.
Para isso, vale salvar imagens eróticas, escrever em um diário íntimo, falar sobre sexo, aguçar sentidos como o paladar e mais. Confira a entrevista com a sexóloga a seguir.
"Permitir-se falar sobre prazer e satisfação pessoal feminina é inovador"
CRISTINA GRECCO
Ginecologista e sexóloga
De onde partiu a inquietação para escrever sobre desejo feminino?
Estamos inseridos numa sociedade que sempre olhou para a sexualidade sob o viés patológico, relacionado a infecções sexualmente transmissíveis ou então sob um viés de medo — o temor de uma gestação na adolescência, por exemplo. O olhar para a sexualidade feminina sempre foi mais focado na reprodução do que no prazer, na satisfação e no relacionamento.
Permitir-se falar sobre prazer e satisfação pessoal feminina é algo inovador. O intuito principal é que a mulher, sem pressa e pressão, caminhe para uma transformação de desenvolvimento pessoal através da sua sexualidade, entendendo que a sexualidade é algo muito amplo.
No livro, você diz que ser uma pessoa "transante" vai além do sexo, tem a ver com ser comprometida com o seu prazer e a sua satisfação pessoal. Qual é a importância desse comprometimento?
Ao longo dos séculos, vemos como a mulher foi tolhida das suas vontades, então o termo "transante" propõe justamente dar voz e vez para as mulheres buscarem prazer, mas não restringindo isso ao sexo e, sim, entendendo a sexualidade como uma energia essencial que nos move para uma ação e que contribui para sermos melhores para nós mesmas e na convivência com outras pessoas. A minha visão é ampliar a sexualidade como essa potência que todo mundo carrega.
De que forma o potencial relacionado à sexualidade reverbera em outras esferas da vida?
Quando entendemos que a sexualidade conversa com o nosso autoconhecimento, ela nos provoca também a ter conexões mais profundas e verdadeiras com a nossa família, com as pessoas do nosso trabalho e com as nossas parcerias.
O que são os seis arquétipos do desejo feminino, na sua teoria?
Nós, mulheres, somos cíclicas e fluidas e o nosso desejo é tão fluido quanto a gente é ao longo da vida. Dessa forma, em um momento de vida, a mulher pode ter uma manifestação de desejo mais espontânea, algo que brota do seu corpo — sendo esse o arquétipo do desejo sexual feminino espontâneo —, enquanto em outra fase, pode estar com toda a sua energia focada na carreira, na maternidade ou outras questões e aí ser mais "esquiva" do ponto de vista de desejo — ela não vai ficar buscando esse desejo focado no sexo, mas, sim, em outras coisas da sua sexualidade.
Existem as mulheres "objetivas", que direcionam o seu desejo para um objetivo maior do que o próprio sexo. São mulheres que querem muito ter uma parceria, por exemplo, ou querem resgatar um relacionamento que está passando por dificuldades e acabam prestando mais atenção à sexualidade, ou, ainda, que desejam engravidar.
Há também as mulheres mais "passivas" diante da sua sexualidade e, consequentemente, em outras questões da vida — esperam que outras coisas aconteçam para, só então, tomar posicionamento. Outro perfil são as "proativas", que querem se conhecer bem, fazer cursos, descobertas, só que em alguns casos chegam a uma espécie de burnout, um excesso de informações que precisam ser organizadas.
E aí tem o arquétipo guia, que é o arquétipo da mulher transante, aquela que já descobriu que o seu desejo não cai do céu e, sim, que deve ser proativa e facilitar o seu prazer e a sua satisfação, mas que isso demanda organização para ela não se exaurir.
Uma pessoa não tem necessariamente só um perfil de comportamento relacionado à sua sexualidade, certo?
Exatamente, nós fluímos dentro dos arquétipos. Para entender isso, faço um paralelo com a teoria das linguagens de amor, de Gary Chapman: ninguém é só palavras de afirmação ou atos de serviço etc, são predominâncias.
Na minha teoria dos arquétipos, essa fluidez tem a ver com os movimentos que a vida faz, porque o desejo feminino acompanha esses momentos. Então há fases da vida em que podemos ter a predominância de um dos arquétipos, mas não é algo engessado do tipo "sou espontânea, só tenho desejo 'do nada'" ou "sou passiva, só tenho desejo se eu for, de fato, estimulada por minha parceria". E reitero que eu consegui capturar esses seis arquétipos, mas podem existir diversos outros.
Quais as estratégias para ter uma vida mais transante além do sexo?
Algumas delas são buscar autoconhecimento, fazer "brincadeiras" lúdicas para provocar os seus cinco sentidos, como uma degustação erótica, por exemplo.