Conexão com a própria sexualidade, transformação da relação com o próprio corpo e reconstrução da autoconfiança estão entre os atributos que podem ser desenvolvidos por quem vivencia o tantra e suas técnicas e terapias. Com foco no universo feminino e em suas questões mais delicadas, a mestra tântrica gaúcha Carol Teixeira traz à tona sua experiência ao longo de 13 anos de estudos sobre sexualidade neste domingo (24), quando ministra, em Porto Alegre, o curso I Love My Pussy (na Casa NTX, saiba mais no serviço logo após a entrevista a seguir).
Também escritora e filósofa, Carol implementa método e visão únicos, aplicados em um dia de imersão repleto de meditações e técnicas inéditas, ela se propõe a curar dores e tabus pessoais das participantes, concebidos ao longo de uma vida inteira:
— É um trabalho profundo de cura, de liberação de traumas e de crenças limitantes para que as mulheres expandam e ressignifiquem sua relação com o corpo, com a autoestima e tenham acesso ao próprio poder, culturalmente negado pelo patriarcado — explica.
Em entrevista, Carol esclarece a essência da filosofia tântrica, que também abrange os campos espiritual e mental.
— O tantra é integral. Lida com teu corpo físico, energético e espiritual, trabalhamos muitos âmbitos da existência. É uma grande oração que podemos fazer com o corpo. O grande tabu é esse: só conectado com sexualidade, é uma visão errônea e reducionista — destaca.
Confira:
De que formas o tantra pode mudar a vida da mulher — sexualmente e em sua rotina diária?
Quando as pessoas pensam em tantra, muitas pensam direto em sexualidade porque é como chegou ao Ocidente. Na verdade, o tantra é uma grande ferramenta de autoconhecimento e de conexão com o divino, com o infinito, com o sagrado, ou seja lá como você chama essa força que você sente mas não consegue colocar em palavras. O tantra vê o corpo como ferramenta para a transcendência, diferente de outras linhas espirituais que o afastam, e o veem como obstáculo. Por isso, o tranta diz "use o corpo para sua transcendência e cura". A filosofia lida com o despertar da energia sexual vital criativa Kundalini. Sim, sexual também, mas muito mais do que isso. Kundalini é responsável por nossa vitalidade, força de realização e de cura próprias. Quando você a desperta e consegue "alquimizá-la" (termo no sentido de equilíbrio), descobre o próprio poder — pessoal e corporal. Tudo no tantra quer levar essa energia do primeiro chakra (localizado na região dos genitais) até o topo da cabeça. A partir da concepção do corpo como um "templo" e ferramenta de evolução, é possível curar traumas e potencializar áreas da vida que estão sem energia. Não muda só a sexualidade, muda tudo.
E na sexualidade da mulher?
Em relação à sexualidade, diferente do que o patriarcado ensinou, você (mulher) não é um corpo para o outro. É para você. É seu, o prazer é seu. Você não está aqui para seduzir, servir, agradar. A partir do método, você se apropria do seu corpo em um lugar de poder. Vem uma sensação de completude e, claro, aprende como levar o teu prazer a nível máximo, hiperorgasmos. O orgasmo, na visão do tantra, é uma reza, o momento em que você está mais conectado com o poder cósmico. Você entra em um estado muito potente espiritualmente por meio do corpo.
É verdade que as técnicas tântricas (e do curso) podem libertar a mulher da dependência de ter um par para gozar e/ou aprofundar a qualidade da masturbação e/ou transformar os orgasmos em intensidade e frequência?
Sim, mas é importante ressaltar: não tem a ver só com sexualidade. É claro que vai aprender técnicas para entender como elevar o prazer a um nível que nunca acharam que fosse possível. Ou, as mulheres que nunca tiveram um orgasmo, vão entender como ter. Já presenciei inúmeros, centenas de primeiros orgasmos em meus cursos ao longo desses anos. É sagrado e lindo os testemunhar. Muito mais mulheres não gozaram do que se imagina. Não nos ensinaram a isso, pelo contrário, ouvimos o "tira a mão dai", era feio, sujo. Com isso criamos crenças que nos limitam, de que precisamos do outro para nos levar a esse ápice. Sem bloqueios, ela passa a se conduzir muito mais e depois consegue contar ao outro.
O tantra é uma grande ferramenta de autoconhecimentoe de conexão com o divino, o infinito, o sagrado
CAROL TEIXEIRA
Mestra tântrica, escritora e filósofa
Nós mulheres, em geral, aceitamos menos do que gostaríamos? Ou essa não é a questão?
Outra dificuldade da mulher é que, muitas vezes, não fala, tem vergonha de dizer do que gosta, não quer incomodar o outro, e acaba insatisfeita. E, o que acontece quando transamos sem vontade ou não chegamos ao ápice que a gente merece? O corpo entende como abuso. E aí se cria um trauma. Afirmo com conhecimento de causa, trabalhando com o feminino por muitos anos: toda mulher é muito traumatizada e precisa de cura no corpo — porque a ferida na mulher ocidental, está no corpo. Somos "castradas" e isso nos tirou o poder de nossa relação primordial, que é com a nossa "selvageria" (sentido de instinto) e expansão. As mulheres não têm noção de que elas merecem prazer, ficando numa posição de servir ao outro.
Justamente, um estudo da USP sobre Transtornos Sexuais Dolorosos Femininos da Universidade de São Paulo (USP), de 2020, apontou que 55% das brasileiras não têm orgasmos no sexo. Como você avalia esse resultado? De alguma forma, esses números aparecem na realidade do teu trabalho?
Diria que é ainda maior. Muitas não falam pra ninguém sobre isso, acreditam que elas têm um problema quando, na verdade, o problema não é dela, ela não tem problema algum. O problema está na sociedade que não nos ensinou a chegar nesse ápice de poder, de prazer e de autoamor. Nos afastaram disso. Ela simplesmente não sabe gozar por uma deseducação da nossa cultura. Ela, provavelmente, transa ou já transou com pessoas que foram igualmente deseducadas pela "cultura do pornô", predominante na sociedade patriarcal, que segue uma cartilha errada e que deseduca. A falta de informação e a sensação de não merecimento influenciam e acabam recebendo "migalhas".
Ao longo do curso, tudo é voltado para empoderá-la a fazer valer a vontade dela, em relação ao corpo dela, às suas regras, e ao seu prazer. Ela precisa se descobrir primeiro, como lida com o seu corpo, com o seu tempo e só depois trazer outra pessoa. Eu ensino isso, apresento o que ela merece. Trago essa segurança e faço com que ela se reaproprie de seu corpo nesse lugar de poesia, beleza, potência e divino que o corpo tem, que transcende padrões e conceitos.
Muitas mulheres têm curiosidade e interesse sobre o tantra, mas também medos e vergonha. Como é possível dar o primeiro passo nessa direção?
Sempre digo que devemos "ir com medo mesmo"’, senão não damos nossos "saltos" na nossa evolução, no nosso autoconhecimento. Na primeira meia hora de curso eu tiro esse medo. Trago meditações "catárticas" que levam a pessoa a um estágio de consciência que permite que se entre em uma conexão profunda com seu corpo. As meditações têm a ver com respiração, movimento, vamos reprogramando a mente para a perda do medo. 100% de quem já participou relata que não precisava ter tido medo. Aprendemos a ter medo do nosso poder. Não à toa, as sociedades lutam para lidar com ele (poder) ao longo da história. Algumas sociedades usam a burca, outras superexpõem, como a nossa (brasileira). Quando alguém lhe diz que libertará seu corpo, que você vai voltar a sentir que merece toda sua potência, a reação é de medo da luz: "Deixa eu ficar aqui num lugar não confortável, mas que ao menos eu conheço", né? Mas quando ela se joga, é uma vida antes e outra depois.
Como é o curso I Love My Pussy? Qual a dinâmica? É personalizado ou as atividades são em grupo?
Começa com supercafé da manhã vegetariano no qual nós conversamos e nos conhecemos, já vamos trocando experiências, sentindo que estão na mesma busca. Logo depois, vamos ao salão e a vivência começa. Divido o curso em três etapas: 1) Meditação catártica que libera emoções, choros, gritos, traz à tona traumas e desbloqueia as "couraças" que vão nos impedido que a gente entre em contato com nosso centro de amor e poder. Vou tirando esses bloqueios. Todas juntas em grupo, sob o poder da mesma energia. 2) Depois trago outra etapa sobre a sutileza: provo o quanto precisamos dela, a ação da natureza é sutil, trago a energia do amor com meditações leves e suaves, entrando em outra onda energética. 3) Por fim, entra a movimentação da energia sexual que eu ensino. As "shaktis" (apelido carinhoso às participantes) já estão abertas emocionalmente, já entenderam que merecem afeto, cuidado e amor, já sentiram a sororidade real – não essa de textão que se fala muito. Trago isso no curso, esse poder que é estar numa sala cheia de mulheres na mesma busca. Com traumas parecidos. Elas estão emocionadas e aí sim trago a energia sexual ressignificada. Elas vão aprender o ritual. Só quem está no curso vai saber como é louco e potente e bonito. Ensino como elas podem tocar nelas mesmas e movimentar essa energia. É aí que elas aprendem técnicas muito potentes. É aí que gira a chave de que "meu corpo é sagrado, mereço prazer, mereço pessoas ao meu redor que respeitem tudo isso, como eu enxergo agora".
Existe alguma contraindicação? Qual é o público que busca o teu curso?
O curso é para todas as mulheres, de todas as idades, lugares e personalidades. Porém, para as gestantes de até três meses de gestação, é importante conversar e avaliar cada caso. Posso adaptar algumas práticas ou realmente indico que é melhor não fazer.
O curso:
O quê: I Love My Pussy
Quando: domingo (24 de julho) - das 9h às 19h
Onde: Casa NTX - Porto Alegre - Avenida das Indústrias, 1.395 - bairro Anchieta
Inscrições: carolteixeira.com.br/i-lovemypussy